sábado, 24 de dezembro de 2011

Então é Natal

Amigos(as) de bar. Sacanagem como o tempo, cada vez mais, passa mais depressa. Sabe aquela frase: ' parece que foi ontem' ? Então, a cada momento ela esta mais presente. Aquele bebê que outro dia mesmo estava no colo já é um rapaz. Os fios brancos se multiplicam e, com eles, aumenta a incerteza do amanhã. Será que ainda teremos a mesma disposição ? Será que cumpriremos todas as metas que traçamos para nossas vidas ? Será que a vida sorrirá para nós ? Eu digo: claro que sim! Porque não ? Depende muito de nossa vontade e de nossa paixão. A vontade, todos temos. A paixão, por sua vez, precisa ser alimentada por doses regulares de afeto, carinho e ternura. Tudo isso tenho recebido de voces, neste espaço, e cada vez mais intensamente. Devolvo o afeto com Bandeira:

'Tu, que me deste o teu carinho
e que me deste o teu cuidado
Acolhe ao peito, como o ninho
Acolhe ao passaro cansado
O meu desejo incontentado
............
E sentirás o meu carinho
E sentirás o meu cuidado'

Obrigado, de coração, a todos voces, amigos(as) de bar, que fazem essa caminhada valer a pena. As mensagens me emocionam e tornam este balcão um lugar diferenciado. Onde a ausencia do dono nao impede que a prosa continue. Bão tamem.

Um Natal maravilhoso e que 2012 nos traga mais afeto, carinho e ternura.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O crime e a impunidade

Nos últimos meses postei aqui algumas matérias cujo tema está se tornando recorrente: o de crimes contra mulheres. Mércia Nakashima, Vanessa e as irmãs de Cunha foram apenas algumas das vítimas mais recentes. Casos que ganharam repercussão por causa da beleza e juventude das vítimas. E tambem pelo mistério que envolvia cada um dos crimes. Mas sabemos que, todos os dias, dezenas de vítimas anônimas continuam sendo espancadas, torturadas e mortas neste país. Muitas vezes, os agressores são pessoas que convivem com as vítimas. Delinquentes, facínoras e psicopatas que nunca são identificados. E, quando são, contam com a lentidão ou com as brechas da justiça para permanecer impunes. Hoje faz um mês que Bianca Consoli foi espancada, asfixiada e morta dentro de casa. O autor desta barbaridade ainda é desconhecido.



Semana passada, em Brasília, uma jovem estudante foi morta friamente por um professor. O autor foi identificado e preso rapidamente. O crime foi esclarecido em pouco tempo porque o assassino fez questão de levar o corpo da moça até uma delegacia. E sabem porque ele fez isso ? Para escapar do flagrante. É inacreditável, mas a lei brasileira prevê que o flagrante se caracteriza nas seguintes situações: quando o autor é surpreendido praticando o delito; quando o autor é preso pouco tempo depois de ter cometido o delito; e quando existe perseguição após o delito. Como o assassino de Brasília é professor de Direito, conhecia muito bem as brechas da lei. Por isso, demorou 3 horas para se apresentar na delegacia. E só foi preso porque, enquanto circulava pelas ruas e avenidas com o corpo da estudante, a familia dela havia comunicado o desaparecimento e possível sequestro. Senão, o professor estaria agora livre, leve e solto. Quem sabe até  na companhia de Mizael, o suposto assassino de Mércia Nakashima, que se aproveita a 'bondade' da justiça brasileira para rir da cara de todos nós.



Esta semana os advogados do professor Rendrik entraram com Habeas Corpus pedindo para que o assassino aguarde o julgamento em liberdade. No primeiro momento, o pedido foi negado. Mas duvido que ele permaneça preso até o julgamento. E duvido mais ainda que fique preso depois do julgamento, mesmo se condenado. Foi assim com Pimenta Neves. É assim com todos que dispõem de bons advogados e possuem amigos influentes nos tribunais. Pobre país em que vivemos. Aqui, espancar, humilhar, maltratar, torturar e matar mulheres não dá nada. Aqui o crime compensa.  

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A casa dos vivos

Amigos de bar, depois de um tempo fechado para balanço (mas com direito a música sem cobrança de couvert), o boteco reabre com reminiscências filipinas. A reportagem abaixo foi a primeira da série sobre o arquipélago. Depois eu conto sobre as outras.

 Manila lembra algumas cidades brasileiras. Sabe, assim, quando voce percebe que existe alguma organização em meio ao caos ? Então. É este resquício de organização que permite que o transito flua e que os milhares de fios entrelaçados nos postes continuem conduzindo eletricidade. Se voce achava que o gatonet era exclusividade brasileira, é porque não viu os postes na periferia de Manila. Os telefones e os canais a cabo são, digamos, comunitários. Um só ponto é dividido por várias famílias numa boa. Com uma certa complacência do poder público. Como no Brasil, nas Filipinas tambem é mais conveniente tolerar algumas contravenções do que combate-las. Assim os animos não se acirram e a massa fica sob controle. É o 'toma lá da cá' exercitado em todos os níveis. E todo mundo fica feliz. Aliás, uma pesquisa indicou que os filipinos formam a população mais feliz da Ásia. Setenta por cento dos habitantes se consideram felizes. Estão satisfeitos com a vida que levam. E tem boas perspectivas para o futuro. É estranho. O país é pobre, muita gente passa fome e a maior parte da população carece de atendimento nas áreas da educação, segurança e saúde. Como ser feliz assim ? Pois os filipinos são. Sabe porque ? Desvincularam a felicidade do bem estar material. É um estágio que muitos almejam mas que, nas Filipinas, está mais ligado ao 'tá ruim mas tá bom' do que a um estilo de vida. Ou seja, é saudável mas implica numa boa dose de conformismo. Foi essa a sensação que tive ao visitar o maior cemitério das Filipinas. Onde vivos e mortos dividem o mesmo espaço.












sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Stand by me

'Não importa quem você é. Não importa para onde você vai em sua vida. Em algum momento, você vai precisar de alguem para ficar ao seu lado.'

Lições de vida, de romantismo e de arte se repetem em praças do mundo inteiro. Neste boteco, estas lições se transformam em trilha sonora. Enjoy.




terça-feira, 26 de julho de 2011

Façamos, vamos amar

"Posso não durar tanto quanto as outras cantoras, mas sei que posso destruir-me agora se me preocupar demais com o amanhã"

Amigos de bar, a frase acima não foi dita por Amy Winehouse. Mas poderia perfeitamente ter sido assinada por ela. Como outros ídolos que sucumbiram cedo demais ao poder das drogas, a jovem cantora deixou a vida para se transformar em mito. Exatamente como aconteceu com Janis Joplin, quarenta e um anos atrás. Janis é a autora da frase que abre o post. Assim como Amy, ela morreu no auge da carreira, com apenas 27 anos de idade.

Não conheço muito o trabalho de Amy Winehouse. Só agora, com a repercussão da morte, é que ouvi mais atentamente 'Rehab'. Que voz ela tinha, né ? Por falar em voz feminina, existem cantoras brasileiras fenomenais que passam a vida despercebidas e ignoradas pela mídia. Elza Soares é uma delas. Se fosse americana, com certeza Elza seria tratada como diva em qualquer palco do mundo. Mas aqui ela é sempre lembrada como a viúva do Garrincha. Hoje, a caminho de São Paulo, ouvi no carro uma canção gravada por ela e pelo sempre genial Chico Buarque. Cole Porter deve estar orgulhoso. É só clicar abaixo para se deliciar com a versão de Chico e Elza. E, se ´pulgas em calcinhas e calções, fazem...',  façamos! Vamos amar...


Save me, please...

A partir de que momento um erro é aceitável ? A pergunta, claro, se refere a erros graves, que podem mexer com a vida de uma pessoa. Até porque, pequenos erros cometemos a toda hora. Passamos a vida nos desculpando. E aceitando desculpas. Todos estamos sujeitos a eles. Penso que, quando inconscientes ou involuntários, erros se tornam aceitáveis depois que desculpados ou corrigidos. Mas quando planejados, podem ser imperdoáveis. As reportagens abaixo mostram erros que alteraram o caminho de algumas pessoas. O primeiro, um erro grotesco. Que poderia ter sido corrigido antes de marcar profundamente a vida de uma mulher. Fazia 28 anos que dona Sueli pedia socorro. E ninguem a ouvia.


O erro que mudou a vida de dona Sueli ainda pode ser corrigido. Mas para uma jovem advogada que buscava a realização profissional em São Paulo, dois erros no trânsito acabaram em tragédia. Jovem, bonita, rica e inteligente, Carolina cometeu uma infração que talvez todos nós já tenhamos cometido tambem. Ultrapassou o sinal vermelho. Mas do outro lado vinha um jovem igualmente rico e inteligente, numa velocidade impensável para as ruas de um bairro paulistano. Neste caso, o erro não poderá jamais ser corrigido. Embora sempre exista tempo para as desculpas. E para o perdão.

Kill me, please...

Todo mundo sabe o que é depressão. Por ter ouvido falar ou por conviver com pessoas que padecem com a doença. Ela é sorrateira. Se instala e vagarosamente consome sentimentos básicos e essenciais como a alegria, a felicidade e, algumas vezes, até a vontade de viver. Mas até onde pode chegar essa sensação que corrói e, eventualmente, deforma a personalidade das pessoas ? A resposta pode estar na reportagem sobre a mulher que planejou seu próprio assassinato. Durante anos, a jovem advogada foi tratada como depressiva. Mas tinha, na verdada, uma doença ainda mais grave. Se chama Transtorno de Borderline. Borderline significa 'limitrofe'. É a fronteira exata entre o que chamamos de normal e aquilo que conhecemos como insano. Quem sofre desse mal caminha o tempo todo no fio da navalha. Basta um escorregão para cair. E quem cai,  muitas vezes, não consegue mais se levantar. Foi o que aconteceu com a advogada de Penápolis, no interior de São Paulo. Para ela, a sensação de abandono e rejeição foi mais forte que qualquer razão para viver.


Ainda existe uma controvérsia sobre o mal que afligia a advogada. O Transtorno de Borderline transforma a pessoa num potencial suicida. Mas a vontade de tirar a própria vida se manifesta em situações pontuais. É como se fosse um surto. Vem, se manifesta, e passa. Mas o plano da advogada foi calculado nos minimos detalhes. A elaboração da propria morte começou na noite de sábado. E só se consumou na madrugada da terça-feira. Ela teve tempo de pensar e repensar em tudo. E de se arrepender tambem. Mas escolheu morrer pelas mãos de outra pessoa. Uma fonte segura disse que, na véspera, ela esteve na igreja e se confessou para o padre. Será que foi a religiosidade que a impediu de tirar a própria vida ? Nunca saberemos.

Ps: Muita gente, médicos inclusive, confundem o Transtorno de Borderline com a depressão. E, por esse Brasil afora, inúmeros pacientes são diagnosticados de forma equivocada. E tratados com medicamentos que não inibem os sintomas perigosos e, as vezes fatais, do transtorno de Borderline.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Repúbliká ng̃ Pilipinas - Primeira parada: Manila

Chegamos em Manila num dia ensolarado. E aqui o sol, necessariamente, é sinônimo de muito calor. Temperatura na casa dos 35 graus. O trajeto até o hotel é tranquilo. Não muito rápido, por causa do transito caótico, mas tranquilo. Durante o percurso faço o que sempre costumo fazer quando estou numa cidade desconhecida: mantenho os olhos atentos, tentando fotografar na retina tudo que é inusitado, apreciando a arquitetura, o trânsito, as pessoas, enfim, me deliciando com as diversas faces de uma cidade que, à primeira vista, parece diferente. Mas descubro,assim, que algumas dessas faces são incrivelmente familiares para nós, brasileiros. Muito de Manila evoca a periferia de nossas metropoles. Para o bem e para o mal. O emaranhado de fios nos postes, sugerindo 'gatos'' pra todo lado, ruas cheias de buracos, mas uma gente alegre, receptiva e sorridente.

O lado nobre da cidade tem avenidas bem asfaltadas, fontes luminosas, lojas de grife e uma gente cheia de empáfia, desfilando com cachorrinhos na coleira. Não adianta. O novo rico é igual em qualquer lugar do mundo.Mil vezes a periferia. O motorista explica que nosso hotel fica num dos melhores bairros da cidade. Quando chegamos, a realidade é bem diferente. Fico imaginando como são os piores bairros, já que o nosso tem ruas sujas e escuras. Cheiram urina. E a prostituição rola solta. A moeda é o peso filipino, que é convidativo para compras. Um real brasileiro vale 38 pesos. E descubro, logo ali, na esquina do hotel, como é bom ter uma moeda forte no bolso. O jantar solitário, num bom restaurante japonês, com direito a sushi, sashimi, bebidas e outros 'mis' mais, sai por módicos 12 reais. Vou virar freguês.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Repúbliká ng̃ Pilipinas

Amigos de bar!! Semana que vem atualizo o blog! Com histórias filipinas e tailandesas.
Por enquanto, algumas fotos. A primeira é de um vale na região de Banaue, onde ficam os Terraços de Arroz, que os filipinos chamam de Oitava Maravilha do Mundo. Aliás, a foto de abertura do blog (acima)tambem mostra os terraços. A outra imagem (abaixo) é sobre o ballot, o 'prato' que provocou náuseas em mim e em muitos telespectadores. E a última mostra Ruben Enaje, um dos protagonistas da reportagem que vai ao ar no próximo domingo. A foto dele já conta alguma coisa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Os frutos da maldade

Até que ponto pode chegar a maldade humana ? Esta pergunta não me sai da cabeça. E martela mais forte desde que duas meninas foram mortas em Cunha, no interior de São Paulo. Josely e Juliana moravam com os pais e mais uma irmã, Betânia, num pequeno sítio. E tinham sonhos singelos. Josely, de dezesseis anos, queria ser manicure. Juliana, de quinze, dizia que, um dia, a mãe iria ve-la desfilando em uma passarela. O pai, seo  José, me contou que o nome da segunda menina, Josely, tinha sido dado por ele. Como eles queriam um menino, e veio uma menina, a mãe, dona Iracema, disse que ele podia escolher o nome. E ele escolheu Josely (a pronúncia é Josély e não Joselí) porque deriva de José. Simples. Como a vida da família. Como os sonhos das meninas. Como os sonhos de seo José e dona Iracema. Todos relacionados com o futuro de Juliana, Josely e Betânia, que acabou de completar dezoito anos. E agora está sozinha. Ela mostrou o quarto onde dormiam. Tem apenas um guarda-roupa e duas camas. Uma de casal, que ela dividia com Josely, e outra de solteiro, onde Juliana dormia. Tambem tem bichos de pelúcia, bonecas e alguns poucos cremes e perfumes. Era neste quarto que, já deitadas, elas conversavam e davam risadas, lembrando o que tinham feito durante o dia e planejando o dia seguinte. Vivendo assim, na companhia zelosa dos pais, na simplicidade de um sítio, no aconchego de uma casa pequena e modesta, na companhia de cães, galinhas, porcos e passarinhos, elas eram muito felizes. Parece pouco, mas só quem viveu algo parecido sabe como é  possível ser imensamente feliz assim. Esta felicidade, os sonhos, talvez até o futuro de quem ficou, tudo foi destruído por um canalha. 


Esta semana Ananias foi preso e confessou os crimes. É um canalha. Assim como o rapaz que invadiu a escola em Realengo, no Rio de Janeiro, e disparou contra dezenas de crianças. Conheci alguns personagens desta tragédia. Alunos que, por muito pouco, não estiveram na mira do atirador. Professores que agiram como heróis. Mães que buscaram desesperadamente pelos filhos. Tudo porque um cara que estava destinado a passar em branco pela vida resolveu assinar uma obra demoníaca e, assim, entrar tristemente para a história. Como entender, e perdoar, os Ananias, Wellingtons e tantos outros que matam por matar ? Ao contrário de seo José, o pai das meninas de Cunha, que tem uma religiosidade e uma grandeza de espírito muito maiores que as minhas, eu não entendo e não perdoo. Entendo que eles agiram assim movidos somente pela maldade. A mesma maldade que se enraiza no coração dos homens e aparece de tempos em tempos, como que para nos lembrar: 'eu existo. Sou eu que estou por trás de um genocídio, do índio queimado, dos meninos mortos na Candelária, das mortes de Mércia, Vanessa, dos homicídios, latrocínios, estupros, espancamentos, enfim, sou eu, a maldade, a razão de tudo isso.'  E ela não se ampara em credos, religiões, convicções, fanatismo, em nada! Ananias e Wellington não eram fanáticos, não eram lunáticos, não eram doentes, não eram petistas, não eram tucanos, não eram flamenguistas nem corintianos. Não eram nada. Eram maus. Só isso. Seo José por certo não concorda comigo. Ele tem um coração grande demais. Acha que todas as pessoas são frutos da mesma árvore. E que esta árvore só dá boas sementes. Eu penso diferente. Acho que os frutos dependem sempre da maneira como a árvore é cultivada. Sabe aquela história, de que todos temos dois animais famintos no coração ? Um se alimenta de bondade. E o outro, de maldade. Aquele que voce alimentar mais, crescerá mais, e tomará conta de seu coração. Como tomaram conta do coração de Ananias e Wellington. 





terça-feira, 29 de março de 2011

Fé cega, faca amolada

Você acredita em profecias ? Acha que tudo está escrito e nosso destino está selado ? Ou nosso caminho é incerto e depende unicamente de nossas escolhas ? Acho que a resposta varia de acordo com a crença de cada um. E a palavra 'crença' aqui não tem uma conotação exclusivamente religiosa. Serve para quem acredita ou não em profecias. Desde que o homem é homem existe este fascínio pelo futuro. Sempre houve esforços para desvendar o amanhã. Os Maias, muitos séculos atrás, elaboraram um calendário que até hoje impressiona os cientistas por sua exatidão. Eles denominavam o fim do ciclo de seu calendário como o 'Fim dos Tempos'. E o fim do Calendário Maia é previsto para 2012. Por acaso, ou não por acaso, astronomos preveem que, ano que vem,  muitos dos planetas de nosso sistema solar estarão em perfeito e impressionante alinhamento. A combinação do efeito gravitacional e o campo magnético destes planetas causará pressão sobre cada um deles e, desta forma, um aumento significativo das atividades sísmicas e vulcânicas na terra. Atenção, amigos de bar! Será que, neste caso, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência ? Sinistro! Nostradamus tambem fez previsões catastróficas. E é fácil encontrar alguem disposto a provar que tudo que Nostradamus escreveu já aconteceu em algum tempo e lugar. E que outros acontecimentos mais terríveis ainda estão por vir. Como, por exemplo, uma guerra no Mediterrâneo envolvendo americanos, árabes e israelitas. De novo, sinistro! E, por fim, a Biblia tambem traz profecias sobre o fim dos tempos. Não é por acaso que o livro do Apocalipse é o mais lido da Bíblia. Ele traz revelações sobre o destino dos homens e do planeta. Entre elas, a de que haverá um tempo de tribulação e um tempo de arrebatamento. Guerras e cataclismas vão castigar os homens. Mas muitos serão arrebatados espiritualmente antes do juizo final. E como não existe na Bíblia uma data definida , basta acontecer um evento formidável ou catastrófico para que muitos vejam aí o sinal de que o fim dos tempos está chegando. Dá pra lembrar, assim, sem muito esforço, de uma série de fatos que inspiraram as mais diversas teorias conspiratórias: ataque às torres gemeas; furacão Katrina; bug do milênio; tsunami na Indonésia; terremoto no Haiti; terremoto no Chile e, agora, terremoto e tsunami no Japão. Este ultimo evento motivou uma familia de Diadema a sair por aí, andando pelo mundo e esperando o momento de serem arrebatados. Confesso que nunca tinha ouvido falar na profecia do arrebatamento. E a descobri fazendo a matéria sobre a família desaparecida. Interessante que ninguem ali, além do pai, levava a sério a profecia. O filho de 22 anos tinha discussões intermináveis com o pai por causa disso. Mas bastaram dois dias de falação na cabeça para o rapaz acreditar que o momento havia chegado. Havia até data e hora marcadas! Dia 14 as 14 horas. Eles chegaram a essa conclusão depois de fazer contas, decifrar versículos e calcular datas num calendário hebraico. Na verdade, foram induzidos por um pregador que conquistou a confiança do pai e o convenceu sobre as datas. Rasgaram dinheiro, deixaram amigos e parentes em desespero e sumiram no mundo. Menos mal que, depois que a matéria foi exibida, os quatro foram localizados num albergue em Ourinhos, no interior de São Paulo. O pai ainda relutou em voltar. Queria continuar a caminhada incerta em busca do arrebatamento. Loucos ? Surtados ? Sei lá. Muita gente se deixa levar por paixões avassaladoras. Sejam elas por uma pessoa, um time de futebol, um partido político ou uma religião. O fanatismo tem o poder de arrebatar mentes e corações. Só que fanáticos não argumentam, não suportam serem contrariados e terminam agindo como autômatos, guiados apenas por suas convicções. Por mais controversas que elas sejam. E mesmo que isso represente perdas irreparáveis. Em pleno século 20 um suposto profeta chamado Jim Jones levou 918 pessoas ao suicídio. Entre elas doutores, professores, advogados e empresários. Gente que ficou cega pelo fanatismo. Ou pela fé exacerbada. O fato é que sempre houve e sempre haverá videntes, astrólogos, médiuns e profetas tentando antever o futuro. Alguns definem datas. No calendário Maia o Juizo Final tem data marcada. Nostradamus tambem datou muitas de suas profecias. A Bíblia, porém, conforta ao dizer que 'o dia e a hora ninguem sabe. Nem ainda os anjos dos céus. Apenas o Pai que está nos céus'. 
Aliás, você acredita em profecias ? 


Abaixo, a reportagem sobre a família que esperava o arrebatamento.

sábado, 19 de março de 2011

A honra japonesa

Na redação do Domingo Espetacular um dos monitores de tv está sintonizado na CNN internacional. Na tela, imagens da tragédia japonesa. É assim em todos os canais. Sob vários ângulos, pontos de vista, análises e abordagens, emissoras do mundo inteiro mostram a interminável agonia provocada pelo terremoto e pelo tsunami. Décadas depois de serem impiedosamente castigados pela mão do homem, através dos crimes de Hiroshima e Nagasaki, os japoneses descobrem que a natureza tambem é implacável. E a catástrofe pode ser maior. O pesadelo de uma nuvem nuclear ainda assombra o Japão. Um destino duro demais para um país de homens honrados e trabalhadores. Tenho muitas afinidades com os japoneses e com o Japão, apesar de nunca ter estado lá. Antes de me formar em jornalismo, trabalhei num banco japonês: o Mitsubishi Brasileiro, que hoje não opera mais por aqui. Trabalhava durante o dia todo e fazia faculdade de jornalismo à noite. E lá, além de mim, só tinha mais dois funcionários sem nenhuma descendência japonesa. Todos os outros, cerca de trinta, eram japoneses, nisseis (primeira geração) ou sansseis (segunda geração). E 99,9% dos clientes eram comerciantes ou feirantes japoneses que trabalhavam no Ceasa. Como trabalhava no caixa, tinha contato direto com todos eles. Foram quase cinco anos no Mitsubishi. Tempo suficiente para aprender um pouco da cultura, algo do idioma, apreciar muito a culinária e, principalmente, descobrir que, no trabalho e na vida, a disciplina é importante, o respeito é fundamental e a honra é um valor inalienável.  Eles são mestres nisso. Tanto que agora, mesmo em meio ao caos, ainda preservam valores que o mundo ignora. Ainda não vi, em nenhuma emissora, imagens de saques, arrastões, furtos ou roubos. Pode ser que ainda aconteçam. Em algum momento o instinto de sobrevivência vai falar mais alto que valores éticos e morais. Mas a lição já foi dada. E outra virá em seguida, quando,  passado o desastre, o país se reerguer rapidamente. Como já aconteceu tantas outras vezes ao longo da história. Sempre empurrado pela força e determinação de um povo regido pelo respeito, disciplina e honra. Aos irmãos japoneses, meu respeito, meu carinho e minha solidariedade.                                 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As muitas mortes de Vanessa

Tempos atrás fiz uma reportagem sobre uma jovem que desapareceu misteriosamente. E mais tarde foi encontrada morta. Assassinada. A moça se chamava Mércia Nakashima. Quando fiz a matéria para o Domingo Espetacular, oito meses atrás, refiz o percurso da casa dela até a represa onde o corpo havia sido localizado. E acabei encontrando, casualmente, a agenda de Mércia na água. Oito meses depois a trágica história de Mércia se repetiu com Vanessa Vasconcelos Duarte. Ela tinha 25 anos e foi torturada e estuprada antes de ser morta. Quando fui pautado para fazer a matéria, resolvi refazer tambem o trajeto que poderia ter sido feito pelos assassinos de Vanessa. E no local do crime acabei encontrando a sandália que Vanessa usava quando foi morta. Um detalhe aparentemente banal, mas que evidencia a negligência das perícias em ambos os casos. Como se não bastasse a ineficiência da polícia para  localizar e prender criminosos. O estado de São Paulo tem hoje 152 mil foragidos. Fora os réus confessos que a justiça não consegue ou não quer prender. Além da dor pela perda de pessoas queridas, as famílias das vítimas têm que conviver com a angústia de saber que os criminosos estão  por aí. Livres, leves e soltos. É como morrer duas vezes.

Abaixo, a reportagem sobre o caso Vanessa.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O monstro do Maranhão

Meus amigos de bar, foi decretado o fim da temporada de ócio! Depois de trinta e poucos dias distante do trabalho é hora de arregaçar as mangas e recarregar as baterias. Aliás, esta coisa de férias de jornalista gera folclore. Meu amigo Afonso Mônaco me conta que, certa vez, um apresentador que hoje trabalha no SBT (e não é o Carlos Nascimento), estava dando uma palestra numa faculdade quando um aluno perguntou: "Quais foram os melhores momentos de sua carreira ?' E ele respondeu na maior tranquilidade: "Ah, os melhores momentos, sem dúvida nenhuma, foram durante as férias!' A história, engraçada, serve para mostrar que muita gente se desliga completamente de suas profissões enquanto descansa. Eu até tento, mas confesso que não consigo. Nas férias, acompanho o noticiário pela tv e internet. Mas sem exagero e com a vantagem de ter uma lata de cerveja ao alcance da mão. Agora, de volta ao batente, acompanho ainda mais de perto. No caminho até a redação costumo ouvir as notícias pelo rádio do carro. E outro dia me espantei quando foi noticiada uma rebelião na delegacia de Pinheiro, interior do Maranhão. Estive lá, nesta delegacia, em agosto do ano passado, fazendo uma reportagem sobre José Agostinho Bispo Pereira, de 55 anos. Um pai que abusou sexualmente das filhas durante muitos anos. Teve um filho-neto com uma delas. E sete filhos-netos com outra. Os abusos começaram quando uma das meninas tinha apenas doze anos de idade. E continuaram até o ano passado, quando o caso foi denunciado por vizinhos. Na delegacia entrevistei José Agostinho. E, ao contrário do que imaginava, ele não despertou em mim sentimentos como raiva ou nojo. José Agostinho não é um pedófilo ou um maníaco sexual como estamos acostumados a ver. Não fez o que fez porque era dominado por uma tara incontrolável. Fez porque achava  normal. E os vizinhos tambem achavam normal, porque todos sabiam e se calaram durante décadas. No interior do Maranhão, sem a chance de conviver com valores básicos, José Agostinho e as filhas viviam como bichos. E passaram a agir como tal. As relações incestuosas são comuns para muitas espécies de animais. Mas não para os homens. José Agostinho cometeu um crime hediondo e estava pagando por ele. Até a rebelião. Esta semana os detentos rebelados invadiram o 'seguro' onde ele estava, com mais cinco acusados de pedofilia, e fizeram uma carnificina. Todos os seis foram mortos. Quatro deles, decapitados. Termina assim, em tragédia, a trágica história de José Agostinho. Talvez tenha sido melhor para ele. Tomara que seja melhor tambem para todas as filhas e filhos-netos do homem que ficou conhecido como 'o monstro do Maranhão'.

Você pode conhecer um pouco melhor a história através da reportagem, exibida em agosto do ano passado, que está disponibilizada abaixo.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Programa do Gugu

Acho que estou caducando. Já tinha escrito uma mensagem de ano novo e depois escrevi outra. O ócio das férias faz isso mesmo. Mas tudo certo. Desejar o bem nunca é demais. E este post, agora definitivo, é para falar sobre a participação no Programa do Gugu. Foi muito legal o convite. Fazia muitos anos que eu tinha visto, pela última vez, a matéria sobre a queda do avião da Gol. E me emocionei novamente quando a revi, durante a gravacão. Percebi que, tantos anos depois, muitas pessoas na platéia tambem se emocionaram. Foi certamente a reportagem mais marcante de minha carreira. E tenho certeza que outras virão. Só espero que tenham finais mais felizes. Muitas dessas histórias fazem parte de um projeto que, um dia, vai se transformar em livro. Desses para ser lido na praia, na faculdade, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. E, olha gente, muito obrigado pelas mensagens!! Esse carinho é a base fundamental. Essencial. O alicerce que sustenta qualquer caminhada. Obrigado, sempre, amigos e amigas de bar.

Abaixo, está disponibilizado o vídeo com participação no Programa do Gugu.





segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Interrogações

É, amigos de bar, mais um ano se foi. Para uns, deixando boas lembranças e algumas saudades.  Para outros,  apenas um ano a mais. Indiferente ou para ser esquecido. É hora de fazer o balanço. Verificar pendências e analisar onde podemos melhorar para fechar o próximo ano no azul. Contabilize cada sorriso dado e recebido. Cada abraço sincero. Cada olhar de reconhecimento por algo bom que fizemos. Ou cada expressão de decepção por algo que deixamos de fazer. Neste balanço essencial o verdadeiro lucro está naquilo que acrescentamos em nossas vidas. E independentemente do quanto você tenha lucrado, em sorrisos e alegrias, é importante não se esquecer de que sempre poderemos fazer mais e melhor. Feliz 2011 para todos.

No balanço que se refere a trabalho, a última reportagem que fiz em 2010 me deixou muitas interrogações. Foi sobre o noivo que matou a noiva e um convidado durante a festa do próprio casamento. Intrigante demais da conta. A ponto de provocar outras indagações. Penso que todas as reportagens devem ser esclarecedoras. Mas como esclarecer ou descobrir os mistérios da alma ? Como explicar o ato de um filho, se nem o próprio pai consegue entende-lo ? A conclusão, precipitada, da maioria foi a mais óbvia: de que se tratava de um crime passional. Mas o casal estava feliz e nao havia traição entre eles. Teria sido então um  momento de loucura, um ligeiro instante onde o rapaz foi tomado por uma fúria assassina e incontrolável ? Poderia até ser, mas foi tudo planejado, premeditado. Seria o noivo um psicopata, uma pessoa que dissimulava as atitudes e as intenções ? Os especialistas dizem que não. Que pessoas assim acabam revelando suas insanidades através de atos do dia a dia. Então, por detrás de qual máscara se escondia o assassino ? Creio que nunca saberemos. Igual ao pai, corroído pela dor das perdas e por uma pergunta sem resposta, amigos e parentes das vítimas ainda buscam explicações para as mortes. As respostas talvez tenham sido sepultadas com o principal protagonista da tragédia.

A reportagem completa está disponibilizada abaixo.  Junto com todas as interrogações que carrega.