sábado, 19 de março de 2011

A honra japonesa

Na redação do Domingo Espetacular um dos monitores de tv está sintonizado na CNN internacional. Na tela, imagens da tragédia japonesa. É assim em todos os canais. Sob vários ângulos, pontos de vista, análises e abordagens, emissoras do mundo inteiro mostram a interminável agonia provocada pelo terremoto e pelo tsunami. Décadas depois de serem impiedosamente castigados pela mão do homem, através dos crimes de Hiroshima e Nagasaki, os japoneses descobrem que a natureza tambem é implacável. E a catástrofe pode ser maior. O pesadelo de uma nuvem nuclear ainda assombra o Japão. Um destino duro demais para um país de homens honrados e trabalhadores. Tenho muitas afinidades com os japoneses e com o Japão, apesar de nunca ter estado lá. Antes de me formar em jornalismo, trabalhei num banco japonês: o Mitsubishi Brasileiro, que hoje não opera mais por aqui. Trabalhava durante o dia todo e fazia faculdade de jornalismo à noite. E lá, além de mim, só tinha mais dois funcionários sem nenhuma descendência japonesa. Todos os outros, cerca de trinta, eram japoneses, nisseis (primeira geração) ou sansseis (segunda geração). E 99,9% dos clientes eram comerciantes ou feirantes japoneses que trabalhavam no Ceasa. Como trabalhava no caixa, tinha contato direto com todos eles. Foram quase cinco anos no Mitsubishi. Tempo suficiente para aprender um pouco da cultura, algo do idioma, apreciar muito a culinária e, principalmente, descobrir que, no trabalho e na vida, a disciplina é importante, o respeito é fundamental e a honra é um valor inalienável.  Eles são mestres nisso. Tanto que agora, mesmo em meio ao caos, ainda preservam valores que o mundo ignora. Ainda não vi, em nenhuma emissora, imagens de saques, arrastões, furtos ou roubos. Pode ser que ainda aconteçam. Em algum momento o instinto de sobrevivência vai falar mais alto que valores éticos e morais. Mas a lição já foi dada. E outra virá em seguida, quando,  passado o desastre, o país se reerguer rapidamente. Como já aconteceu tantas outras vezes ao longo da história. Sempre empurrado pela força e determinação de um povo regido pelo respeito, disciplina e honra. Aos irmãos japoneses, meu respeito, meu carinho e minha solidariedade.                                 

4 comentários:

  1. Oi Raul. O que aconteceu no Japão foi uma grande tragédia. Triste saber que famílias foram dizimadas. Mas aconteceu. Que eles possam ter a força necessária para reconstruir seu país e que possam ter em seus corações o conforto para superar
    a dor da perda de seus entes queridos. Beijo,
    Luciane

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  2. Oi Raul...acompanho seu trabalho e admiro seus textos desde o "terra da gente" gravado em Noronha, onde o vi ficar com os olhos rasos d'agua. Seu linguajar comove. Toca fundo. Pena que só descobri hoje este blog...tb sou giramundo, e de tt girar, me toquei que TODOS nós, sejamos Pernambucanos ou Japoneses, diante de catástrofes ou devaneios, precisamos dos poetas. Obrigada. Da próxima vez que vc desembarcar tomara que possamos nos rever, para que eu possa oferecer uns deliciosos quitutes para vc e atual equipe adoçarem essa vida de chegadas e partidas.

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  3. Oi Raul.

    Entre os desastres naturais ocorridos em 2010, destaco os terremotos no Chile e Haiti. 2011 parece repetir a história, novamente com o Chile, e agora o Japão. No Brasil, a destruição das cidades da região serrana do RJ marcaram bem o início do ano novo. Afirmar que uma tragédia é maior ou menor, só contando o número de mortos. As perdas e o sofrimento daqueles que participaram de situações desse tipo não faz diferença. E tragédias ocorridas com frequência, acabam gerando uma certa paranóia por parte de muitos, que falam em castigo divino, final dos tempos, que o mundo vai acabar... Bom, não vejo por esse ângulo. O que entendo é que os estragos ocorridos são consequências das agressões ao meio ambiente, como poluição e crescimento urbano desordenado. E quanto a terremotos, tsunamis ou atividades vulcânicas, sabemos que o planeta sofre transformações internas, e fatalmente países localizados próximos às placas tectônicas serão atingidos. Se pesquisarmos o histórico de fenômenos sísmicos, veremos quantas cidades no mundo foram devastadas e conseguiram se recuperar. O Japão não só se destaca pelo empenho em desenvolver tecnologias mais avançadas, criadas para preservar a vida de milhares de pessoas, mas também pela disciplina de seu povo, que consegue manter a calma em momentos críticos, e pela perseverança em reconstruir tudo novamente deixando até mais bonito do que era antes. Ouvimos contar os números de mortos, mas não se deve esquecer de quantas vidas foram salvas. Estas, mesmo com dores e traumas continuarão a História de seu país. E só o tempo dará entendimento e alívio. Desejo que este tempo venha o mais breve possível.

    Raul, um forte abraço. Deus esteja sempre com vc.

    RCCaridade - Vila Velha, ES

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  4. Ola! Raul!
    Daqui por diante devemos cuidar com muita precaução da produção de enérgia nuclear. Desde os atentados corvade as Torres Gêmeas eu tenho uma convicção - só se vence tecnologia bruta com imaginação.
    A maioria dos pesquisadores não admitem o termo tecnologia subjetiva, consideram apenas a tecnoligia bruta com aceita e absoluta. Vale lembrar que máquinas ou qualquer outro tipo de tecnologia bruta não pensam e sim processam um comando diretamente enviado por um ser pensante. Então dai, nasce a necessiade de se zelar melhor pela vida.
    Um abraço!
    Shyrley

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