segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As muitas mortes de Vanessa

Tempos atrás fiz uma reportagem sobre uma jovem que desapareceu misteriosamente. E mais tarde foi encontrada morta. Assassinada. A moça se chamava Mércia Nakashima. Quando fiz a matéria para o Domingo Espetacular, oito meses atrás, refiz o percurso da casa dela até a represa onde o corpo havia sido localizado. E acabei encontrando, casualmente, a agenda de Mércia na água. Oito meses depois a trágica história de Mércia se repetiu com Vanessa Vasconcelos Duarte. Ela tinha 25 anos e foi torturada e estuprada antes de ser morta. Quando fui pautado para fazer a matéria, resolvi refazer tambem o trajeto que poderia ter sido feito pelos assassinos de Vanessa. E no local do crime acabei encontrando a sandália que Vanessa usava quando foi morta. Um detalhe aparentemente banal, mas que evidencia a negligência das perícias em ambos os casos. Como se não bastasse a ineficiência da polícia para  localizar e prender criminosos. O estado de São Paulo tem hoje 152 mil foragidos. Fora os réus confessos que a justiça não consegue ou não quer prender. Além da dor pela perda de pessoas queridas, as famílias das vítimas têm que conviver com a angústia de saber que os criminosos estão  por aí. Livres, leves e soltos. É como morrer duas vezes.

Abaixo, a reportagem sobre o caso Vanessa.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O monstro do Maranhão

Meus amigos de bar, foi decretado o fim da temporada de ócio! Depois de trinta e poucos dias distante do trabalho é hora de arregaçar as mangas e recarregar as baterias. Aliás, esta coisa de férias de jornalista gera folclore. Meu amigo Afonso Mônaco me conta que, certa vez, um apresentador que hoje trabalha no SBT (e não é o Carlos Nascimento), estava dando uma palestra numa faculdade quando um aluno perguntou: "Quais foram os melhores momentos de sua carreira ?' E ele respondeu na maior tranquilidade: "Ah, os melhores momentos, sem dúvida nenhuma, foram durante as férias!' A história, engraçada, serve para mostrar que muita gente se desliga completamente de suas profissões enquanto descansa. Eu até tento, mas confesso que não consigo. Nas férias, acompanho o noticiário pela tv e internet. Mas sem exagero e com a vantagem de ter uma lata de cerveja ao alcance da mão. Agora, de volta ao batente, acompanho ainda mais de perto. No caminho até a redação costumo ouvir as notícias pelo rádio do carro. E outro dia me espantei quando foi noticiada uma rebelião na delegacia de Pinheiro, interior do Maranhão. Estive lá, nesta delegacia, em agosto do ano passado, fazendo uma reportagem sobre José Agostinho Bispo Pereira, de 55 anos. Um pai que abusou sexualmente das filhas durante muitos anos. Teve um filho-neto com uma delas. E sete filhos-netos com outra. Os abusos começaram quando uma das meninas tinha apenas doze anos de idade. E continuaram até o ano passado, quando o caso foi denunciado por vizinhos. Na delegacia entrevistei José Agostinho. E, ao contrário do que imaginava, ele não despertou em mim sentimentos como raiva ou nojo. José Agostinho não é um pedófilo ou um maníaco sexual como estamos acostumados a ver. Não fez o que fez porque era dominado por uma tara incontrolável. Fez porque achava  normal. E os vizinhos tambem achavam normal, porque todos sabiam e se calaram durante décadas. No interior do Maranhão, sem a chance de conviver com valores básicos, José Agostinho e as filhas viviam como bichos. E passaram a agir como tal. As relações incestuosas são comuns para muitas espécies de animais. Mas não para os homens. José Agostinho cometeu um crime hediondo e estava pagando por ele. Até a rebelião. Esta semana os detentos rebelados invadiram o 'seguro' onde ele estava, com mais cinco acusados de pedofilia, e fizeram uma carnificina. Todos os seis foram mortos. Quatro deles, decapitados. Termina assim, em tragédia, a trágica história de José Agostinho. Talvez tenha sido melhor para ele. Tomara que seja melhor tambem para todas as filhas e filhos-netos do homem que ficou conhecido como 'o monstro do Maranhão'.

Você pode conhecer um pouco melhor a história através da reportagem, exibida em agosto do ano passado, que está disponibilizada abaixo.