sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A incrível história dos Iawanawás - última parte.




Depois da experiência com o rapé indígena, das danças e rituais, fui apresentado à ayahuaska - uma poção feita através da infusão de raízes e folhas. Bira, o cacique da tribo, me explicou pacientemente quais as origens do chá. Ele contou que "em tempos remotos, quando nossos tataravós ainda não haviam nascido, ninguem na nossa tribo conhecia a morte. Mas um dia, numa caçada, o líder da tribo ficou gravemente ferido e não resistiu. Foi a primeira morte entre nosso povo. Esse líder foi enterrado no centro da aldeia. E sobre a sepultura dele nasceram as folhas e o cipó, que começaram a ser consumidos por todos os índios. Depois de consumir o chá, nossos antepassados puderam se encontrar com o líder morto. E descobrimos que não é preciso morrer para reencontrar as pessoas que partem desse mundo." Esta é também uma boa explicação para o nome da bebida. Ayahuaska, na língua quíchua, significa 'cipó dos espíritos'. Dito isto, saímos à procura das raízes e folhas, que foram devidamente cozidas, durante horas, com água do rio. O cipó se chama caapi (Banisteriopsis caapi) e as folhas, chacrona (Psychotria viridis). E um não 'funciona' sem o outro! O cipó provoca as alucinações. E as folhas mantém o sujeito, digamos, num estado de letargia que costumam chamar de 'zen'. Um bate e outro assopra! Bem, junte-se aos poderes das plantas o clima surreal que tomou conta da aldeia: noite super-estrelada, uma lua imensa no céu, todos os índios reunidos e um canto que vara a noite. Nem precisava da ayahuaska pra viajar! E não tomei realmente com este intuito. O objetivo, desde o início, era o de mostrar quais efeitos o chá provoca. E aí, amigos de bar, não existe maneira mais eficaz para descobrir do que experimentando. É preciso deixar claro, no entanto, que a ayahuaska não é considerada droga. Bem, entre os Iawanawás, só os homens tomam o chá. E dezenas deles se reuniram numa fila, esperando pela vez. Tive o privilégio de ser o terceiro a ser servido. Depois do pajé e do cacique, recebi uma dose da bebida. Uma dose mesmo, três dedos num copo de vidro. A bebida tem um sabor amargo e desce raspando pela garganta. Bebi e esperei... Quinze minutos depois, continuava exatamente como antes. Meia hora se passou... e nada. Cinquenta minutos! E tudo bem. A não ser por uma ligeira dormência nas pernas. Bom, eu não sabia que este era o primeiro efeito do chá e resolvi tomar mais uma dose!! E quase imediatamente comecei a flutuar. O braços, de repente, pareciam tentáculos enormes, saindo do meu corpo. O formigamento se espalhou e tomou conta do corpo todo, especialmente da cabeça. Parece que todos os sentidos ficam super-apurados. Você ouve tudo que falam ao seu redor! Foi quando fechei os olhos. E luzes surgiram de todos os lados. Figuras espetaculares se formaram. Me recordo especialmente de uma cena: uma cascata branca, que de repente se transformou em uma cortina cinza. E dela surgiram garras enormes, que a rasgaram de ponta a ponta. Eu estava pronto para ver monstros terríveis surgirem. Mas, em vez deles, foram anjos que apareceram. Abri novamente os olhos. E ali estava o cinegrafista Carlos Bispo gravando tudo. Eu confesso que tentei explicar tudo que via. Não sei se consegui. O cérebro teima em te afastar do mundo real. E de tudo que exija muita concentração e seriedade. Hoje sei que minha experiência foi, na verdade, uma luta constante entre a vontade de mergulhar fundo no subconsciente e a necessidade de manter a lucidez. Porque estava trabalhando. Mesmo assim estive em universos paralelos fascinantes. Tudo bem que as duas doses, mais tarde, se revelaram cruéis. O sono definitivamente não veio. E as ânsias se transformaram em vômitos intermináveis. O bom é que não existe ressaca. Você se lembra de tudo que aconteceu. Tudo que disse. E o melhor: de tudo que viu durante a inesquecível viagem proporcionada pelos iawanawás.

Abaixo o vídeo com a reportagem sobre este lugar, e estas pessoas, tão especiais.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A incrível história dos Iawanawás - Parte III










Caros,


por enquanto, sem tempo para escrever, posto algumas fotos da tribo Iawanawá. Como uma imagem vale mais que mil palavras, não será difícil perceber porque este povo é tão especial. A primeira foto é do rio Gregório, no trecho que fica bem ao lado da aldeia. As outras mostram os preparativos para uma festa Iawanawá. As fotos mostram exatamente o que este povo é: bonito, unido, gentil (mas guerreiro), humilde e, ao mesmo tempo, orgulhoso por suas origens.