segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

In dubio, pro reu

Algum tempo atrás um dos homens mais procurados do Brasil foi preso. O promotor Igor Ferreira da Silva, que há nove anos vivia na condição de fugitivo, foi preso em São Paulo. Cansado de viver nas sombras, o ex-promotor se entregou à polícia. E virou manchete. Naquela semana, fui designado, pela minha chefia, para fazer a reportagem. Até então, jamais tinha me aprofundado neste caso. O que sabia era o que todos sabiam: da versão publicada pela imprensa. De que ele era acusado de ter executado a esposa, Patrícia Aggio Longo, com dois tiros à queima-roupa. Que Patrícia, na época, estava grávida de sete meses. Que um exame de DNA revelou que o filho que ela esperava não era dele. Que as balas que mataram Patrícia tinham sido disparadas por uma arma que ele tinha registrado. E que Igor tinha fugido antes do julgamento e, por isso, condenado à revelia. Ou seja, parecia não haver nenhuma dúvida da culpa do promotor. Aceitei, como todos, o quadro que pintaram. Igor era mesmo um assassino frio. Um monstro. Um psicopata. E mantive esta convicção até o momento em que entrevistei a família de Patrícia Longo. É dificil traduzir aqui a conversa que tive com eles. Foi emocionante e franca. A mãe de Patrícia ainda se comove quando lembra da última vez que esteve com a filha. Foi na mesma noite do assassinato. Horas antes. E diz que raras vezes viu Patrícia tão feliz. "Eles estavam felizes, fazendo planos para o bebê que iria chegar, se amavam profundamente. E Igor nunca, em momento algum, magoou Patrícia. Pelo contrario, sempre a tratou com carinho e respeito", diz a mãe. O irmão e a irmã tambem listam dezenas de motivos para não acreditar na culpa de Igor. Assim como a mãe, se baseiam naquilo que vivenciaram durante anos: no amor que unia o casal. Mas a convicção da família de Patrícia não se ampara somente na intuição. Para limpar a memória de Patrícia, manchada por um laudo de DNA, eles entraram em contato com alguns dos melhores especialistas brasileiros no assunto. Que prontamente desqualificaram o laudo emitido pela USP. "Imprestável do ponto de vista técnico"; "Contaminado por manipulação indevida"; "Preparado por profissional não qualificado", foram algumas das conclusões mais brandas dos especialistas. O laudo caiu por terra. E, com ele, caiu também a única motivação possível para o crime. Todas as outras 'evidências' são contestáveis. A arma do crime jamais foi encontrada. As balas podem ter sido 'plantadas'. E a fuga, no final das contas, é compreensível. Sendo inocente, quem aceita passivamente uma condenação ? Atenção, cara-pálida!! Não estou dizendo aqui que Igor não matou Patrícia. O que estou querendo dizer é que não tenho mais a convicção que tinha antes, de que ele é um monstro, psicopata e assassino. E acho até que ele não será julgado novamente. Primeiro, porque é interessante, para a polícia, ter um caso de grande repercussão resolvido. E no tribunal, o testemunho da família de Patrícia certamente vai encher de dúvidas a cabeça de qualquer jurado. E no júri ainda impera uma norma escrita pelos romanos: in dubio, pro reu (em dúvida, a favor do réu). São muitas perguntas sem respostas. Por isso este caso me inquieta. Fico sempre me perguntando se, afinal, uma grande e terrível injustiça não está sendo cometida.



Para acessar a reportagem, clique no link abaixo.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/imagens-mostram-ex-promotor-igor-ferreira-agitado-logo-apos-a-prisao-20091025.html

domingo, 6 de dezembro de 2009

Sempre amado

Rumo à última fronteira do Brasil, deixo, aos amigos de bar, o ritmo que embala milhões de corações.
Qualquer dia a gente fala mais sobre isso.