quinta-feira, 30 de abril de 2009

O faroeste caboclo da Amazônia

A Amazônia é uma fonte inesgotável de matérias. Meu coração de jornalista pulsa mais forte toda vez que vou para aquelas bandas. É impressionante como a região nos oferece situações e personagens fascinantes. Sei que basta cavocar, aqui e ali, pra dar de frente com grandes reportagens. Nesta última viagem que fiz, à região de Altamira, não foi diferente. A pauta inicial era mostrar as consequências da enchente que varreu a cidade. Depois disso, tinha a incumbência de visitar Medicilândia, onde tambem foi possível produzir um bom material. E aí, restava a terceira, que eu mesmo tinha que encontrar. Esta reportagem, que vai ao ar neste domingo, começou a se desenhar logo que desembarcamos em Altamira. Na verdade, tínhamos acabado de chegar ao hotel e estávamos fazendo o check-in, quando um sujeito entrou, apavorado, e disse ao recepcionista que um hóspede tinha acabado de ser baleado em pleno centro da cidade. Aliás, baleado é pouco. O sujeito tinha sido executado mesmo. Com sete tiros. Cinco deles no rosto. Assuntando aqui e ali, descobri que o rapaz assassinado era madeireiro. E que este tipo de execução era mais ou menos comum na região. Bem, este foi o start. Esta era a matéria que faltava: afinal, o conflito de terras na Amazônia não acabou ? Definida a pauta, era preciso encontrar a resposta. E saí a campo. Depois de muita andança pela transamazônica, descobri que a região que envolve os municípios de Altamira, Uruará e Anapu, ainda é, sim, um foco constante de violência. De conflitos que envolvem pessoas ricas e influentes. Bandidos travestidos de madeireiros ainda formam milícias armadas. Pistoleiros armados ainda torturam e matam pela posse de madeira e terras. Terras, aliás, que pertencem à União. Só pra se ter uma idéia do que é esta violência que encontramos: Uruará tem cerca de 20 mil habitantes. A maioria mora na zona rural. E entre março e agosto do ano passado aconteceram 30 homicídios na cidade. Trinta! Quase todos por causa da briga por madeira. Claro que inocentes também morrem nesta guerra não declarada pela posse da terra. Uma guerra que não começou agora. Nos primórdios, índios também guerrearam na Amazônia, brigando por terras onde havia mais caça e melhor pesca. A diferença é que os 'homens brancos de olhos azuis' agora matam por causa da madeira. A vítima mais conhecida é Dorothy Stang, missionária americana assassinada em Anapu, quatro anos atrás. Mas brasileiros anônimos continuam sendo mortos, nesta guerra insana que envolve o que existe de mais precioso na Amazônia: a madeira de lei que se espalha por milhares de quilômetros quadrados. A reportagem vai mostrar um pouco desse quadro sombrio. Mas, amigos de bar, não se deixem enganar pelo clima de faoreste que permeia o vt. Altamira não é assim. Uruará também não. Nem Anapu ou Medicilândia. A violência está em volta, mas todos que vivem nestas cidades são trabalhadores. Homens que vieram de longe em busca de um sonho. Incentivados pelo desbravamento e pela conquista de uma terra que, na época, era prometida. Neste faroeste caboclo existem muito mais inocentes do que bandidos. Mas os poucos bandidos têm dinheiro, influência e poder. Por isso, continuam matando. E, neste Brasil do andar de baixo, ainda se mata impunemente.

3 comentários:

  1. Olá Raul, já estou louca pra ver esta matéria, não pelo faroeste, mas sim pelo lado humano da coisa, fato que você valoriza sempre! Parabéns pelo blog e por textos tão bons! Tô de olho, hein?
    Sua fã n° zero! (rsss)
    Cássia - Viçosa/MG

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  2. Olá Raul! Realmente é estarrecedora a impunidade neste Brasil inteiro, do andar de baixo, claro. Fiquei chocada...
    Excelente reportagem, como todas que você faz!
    Sucesso sempre e mantenha-se como é: o MELHOR sem aquele estrelismo inútil e barato!
    Sua fã nº zero! rs...
    Cássia - Viçosa/MG

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  3. Oi Raul! Parabéns mesmo pelo seu blog! To adorando!!!! Neste Brasil do andar de baixo existem milhares de inocentes, pena que os bandidos do andar de cima são INSUPERÁVEIS NAS SUAS FALCATRUAS... Ô RAÇA CRIATIVA!
    Sucesso cada vez maior pra você!
    Sua fã nº zero!!! rs
    Cássia - Viçosa/MG

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