quarta-feira, 22 de abril de 2009

Medicilândia

É, o nome é esse mesmo: Medicilândia. Quando eu vi, confesso que pensei em algo relacionado com medicina. Mas quanta ingenuidade! Bastava conferir a localização. Medicilândia é uma pequena cidade às margens da rodovia transamazônica, fundada por volta de 1972, no governo de Emílio Garrastazu Médici. E o nome é uma homenagem ao presidente que comandou o 'milagre econômico' que, anos depois, cobraria sua conta. Então, Medicilândia é uma cidade tranquila, com cerca de vinte mil habitantes, e que encontra no cacau a base de sua economia. Como assim ? Cacau na Amazônia ? Mais uma surpresa, né ? Pois é, Medicilândia é dona, hoje, da maior produção de cacau do Brasil. E só. Mas a pequena cidade já viveu tempos melhores. Foi sede da primeira usina de açúcar e álcool da região norte. Como os militares, naquele tempo, não tinham imaginação nenhuma e adoravam bajular os Estados Unidos, batizaram a usina com o nome de Abraham Lincoln. Não contavam, porém, com a astúcia dos paraenses, que acharam que o presidente americano não tinha nada a ver com nada e rebatizaram informalmente o lugar como Usina do Pacau. Convenhamos, um nome muito mais simples, amazônico e bonito do que o anterior. E o projeto Pacau, na época, atraiu milhares de pessoas para Medicilândia. Quem vinha ganhava casa, terras, dinheiro e emprego. Mas também, assim, até eu!! Só que a Usina sempre foi deficitária. E, por isso, acabou sendo fechada em 2001. Este é o resumo da história. Mas foi por tudo isso que fui até Medicilândia. Fazer uma reportagem e mostrar às quantas anda a usina e a cidade. Amigos de bar, o que encontrei lá resume o que foi o Brasil dos militares: megalomaníaco, utópico, injusto e perdulário. Imagine uma usina inteira completamente abandonada. Com todas as máquinas, equipamentos, materiais... tudo apodrecendo sob a chuva e o calor implacável da Amazônia. Dezenas de carros, caminhonetes e caminhões abandonados. Esquecidos ao relento. Máquinas pesadas abandonadas no meio do mato. O desperdício impressiona. Mas o que entristece mesmo é ver o abandono das pessoas. Sabe aqueles milhares que chegaram a reboque da 'ordem e progresso' ? Continuam lá, tão esquecidos quanto a usina, os equipamentos e as promessas de uma vida digna. Todos dependiam da usina e o fechamento provocou um impacto econômico e social jamais visto na cidade. O mesmo governo que atraiu estas pessoas se esqueceu delas. Atraiu e traiu. É por isso que Medicilândia é um retrato bem acabado do Brasil de ontem e de hoje. Um país que, apesar dos pesares, continua sendo injusto com seu povo.

2 comentários:

  1. O PROJETO FARAÔNICO DE MEDICILÂNDIA

    Pelo seu comentário, já posso imaginar como vai ser a matéria. Foi bom você ter vindo conhecer a realidade e ter a oportunidade de retransmitir ao mundo inteiro as condições e o desperdício do dinheiro público por parte do governo federal em plena selva amazônica. Hoje só através dos meios de comunicação é que o povo tem vez. Graça a sua sensibilidade, do Zé Luiz (produtor do Domingo Espetacular) e toda sua equipe, será possível mostrar aquilo que fica encoberto, escondido, “esquecido” pelas autoridades, melhor dizendo– olhares desviados da realidade. Com essa matéria acredito que a Rede Record, em especial o Programa Domingo Espetacular mais uma vez sai na frente, explorando e mostrando a realidade de um povo e de um dos estados mais esquecido deste país, não se limitando apenas nas regiões sul e sudeste, como costumam fazer a maioria dos meios de comunicação, “ onde há jornalistas sentados apenas na sala de redação, redigindo off e formando opinião sem se quer soar a camisa como você (Raul Dias) fez”. Parabéns pelo o profissionalismo.

    Wilson Soares – TV Altamira-PA
    Email: soares.wilson@hormail.com

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