terça-feira, 7 de abril de 2009

Bangladesh - Urinando no congestionamento


Bangladesh é realmente diferente de tudo que já imaginei conhecer. E este país até meio surreal se revelou, para mim, bem antes do que poderia imaginar. Embarcamos em Bangkoc, numa companhia aérea chamada Biman (Bangladesh Airlines). E olha, se você acha que já voou, no Brasil, em uma sucata, então não tem idéia do que é realmente uma sucata. Pensa num ônibus velho. Com assentos rasgados, cinzeiros soltos, bagageiros que não fecham... Pensou ? Então é mais ou menos isso. As turbulências, meu amigo, num céu de brigadeiro, podem até quebrar a espinha de algum passageiro adormecido. E o vôo dura seis horas! Então, quando desembarcamos, foi um alívio. Mas não poderia imaginar o que nos esperava no trajeto entre o aeroporto e o hotel. Vocês talvez nem acreditem. Porque é um realismo meio absurdo. Surreal mesmo. Primeiro, porque, como no Brasil não existe representação diplomática de Bangladesh, você tem que tirar o visto no próprio aeroporto. O sujeito que nos recebeu, num escritório bem acanhado, ficou visivelmente feliz quando soube que éramos brasileiros. E em Bangladesh, como no Iêmen, e em qualquer lugar do terceiro mundo, a palavra 'brasileiro' abre muitas portas. O que mais se ouve é: "Brasil, Ronaldino, Kaka, number one!!" Bendito futebol, viu ? Claro que, com essa simpatia toda, mais um agrado, é possível abrir até fronteiras. O nosso gentil anfitrião não teve nenhum pudor em, depois de verificar nossos passaportes, perguntar, sorridente, num inglês titubeante: "temos gorgeta, temos gorgeta ?" Claro que temos! E vinte dólares fizeram o gordinho moreno de bigodes e cabelos lisos nos livrar de todo e qualquer desembaraço alfandegário. Até o raio-x ficou para trás. Ele, soberano, manda prender e manda soltar naquele aeroporto. E como gostou de nós, abriu caminho até a porta de saída do aeroporto. E aí vem a segunda parte. Meus amigos de bar, o aeroporto de Dahka, capital de Bangladesh, não empata com nenhum aeroporto brasileiro que eu conheça. E olha que eu conheço muito aeroporto meia-boca no Brasil. Pois este perde até para algumas rodoviárias brasileiras. Apesar de ter ar condicionado, é cheio de pernilongos. Não tem sequer lojas, bares, etc. Até porque o país é majoritariamente muçulmano. E em país muçulmano não se vende bebida alcoólica. Então, pra que bar, não é mesmo ? E quando você sai do aeroporto, o que te espera são táxis que parecem saídos daquelas competições onde os carros ficam batendo uns nos outros. Sei que parece exagero, mas é a pura verdade! Carros amassados até a medula! Ou até a rebimboca da parafuseta! Mas não precisamos pegar taxi. Tínhamos uma van esperando por nós. Sem ar condicionado, evidentemente, apesar do calor senegalesco as 8 da noite. Encarapitados atrás da van, com todos os vidros abertos, descobrimos rapidamente que as ruas e avenidas de Dahka mais se parecem com pistas de competição! Olha, descrever o trajeto entre o aeroporto e o hotel é impossível! Sei que, depois de alguns minutos, você começa a acreditar que nunca existiu nenhuma regra de trânsito no mundo. Que todos podem cortar as faixas, passar em sinais vermelhos, dar fechadas radicais, enfim, ignorar toda e qualquer norma e regra, não só de trânsito, mas de relacionamento, de sobrevivência. O auge de tudo aconteceu quando o motorista parou num dos congestionamentos (que existem em qualquer hora e qualquer lugar de Dahka) e desceu do carro! Não satisfeito, se instalou tranquilamente atrás de um poste e deu uma urinada de fazer inveja. Claro que, durante esse tempo, o sinal abriu, o trânsito andou... Muitos carros buzinaram insistentemente atrás de nós. E nosso motorista lá, tranquilo, absoluto, senhor da situação... na mijada do século. Bem... demoramos duas horas para chegar ao hotel. Acho que a média não passou de quinze quilômetros por hora. No dia seguinte, eu descobriria que nosso motorista, apesar da invejável mijada, tinha sido incrivelmente rápido. É que o trânsito de Dahka está, realmente, acima de qualquer coisa que você tenha sonhado. Claro, 'sonhado', no pior de seus sonhos. Depois eu conto mais sobre o 'formigueiro humano' de Bangladesh. Ah, e também sobre a maior praia do mundo, que estou devendo desde a primeira postagem.

3 comentários:

  1. Raul,fiquei imaginando .....Deve ter muita coisa pra contar...Estou adorando seu blog,estou me divertindo e me emocionando outras.Bjos .Sua cunhada preferida

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  2. Oi Raul,
    Parabens pelo blog.
    Cumprimento-o pela iniciativa. Pois ele se diferencia dos outros, por usar uma linguagem leve e solta, que sempre o caracterizou em suas reportagens, nas quais você se apresenta em seu modo autentico, o que nos faz, participar mesmo que virtualemente do ocorrido. Continue assim , não se deixe contaminar pelo estrelismo - mantenha-se seja sempre autentico, lembre-se disso.
    Seu grande amigo,
    Fernando Ferreira

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  3. Raul, estou adorando seu blog. Lendo os posts já dei muita risada. Você é divertidíssimo,e seu jeito "light" de narrar o fato é show. Parabéns, Beijo
    luciane

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