terça-feira, 12 de maio de 2009

E o Rio continua sendo...

O Rio de Janeiro
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e março...

A canção "Aquele abraço", de Gilberto Gil, é uma das mais lindas homenagens já feitas ao Rio de Janeiro. Gosto da música porque, confesso, além da beleza da letra e melodia, sempre tive uma paixão platônica pela cidade. O Rio foi a primeira capital que conheci. Foi lá também que vi, pela primeira vez, o mar. Tardiamente, claro, como cabe a um bom mineiro: já tinha 14 anos quando dei um glorioso mergulho na praia do Flamengo. E levei um caldo daqueles! E é de lá também o time que me faz vibrar e me faz sofrer. Enfim, para mim, o Rio sempre foi lindo. Apesar de todas as imagens, textos, fatos e fotos sobre o cotidiano carioca sempre dizerem o contrário. E bastaram dois dias lá, vivendo o cotidiano de quem precisa de delegacias e delegados, para perceber que a verdade, infelizmente, está com as imagens, textos, fatos e fotos. Que o 'meu' Rio não existe mais. Que, pior ainda, talvez nunca tenha sequer existido. Estive em duas delegacias. A primeira, num lugar chamado Rio do Ouro, mais parece um pardieiro. Uma casa velha, com cômodos pequenos e paredes desgastadas onde ainda se ouve o tec-tec de antigas máquinas de escrever. Na sala do delegado, também pequena, uma mesa atulhada de papéis, uma cadeira e um sofá rasgado compõem o ambiente. Que combina com as roupas de delegados e investigadores. E com o comportamento deles também. Indiferentes, arrogantes, prepotentes. Não conosco, com a nossa equipe, mas com as pessoas que aguardavam no balcão para serem atendidas. E o mesmo se repetiu em outra delegacia, em Bonsucesso. A delegada, investigadores e escrivãos estão, sem dúvida, melhor instalados que seus pares de Rio do Ouro. O prédio é maior, tem portas de vidro, ar condicionado e computador. Mas o tratamento ao público consegue ser pior. Todos devem ter lido as mesmas cartilhas! Quando chegamos na delegacia, as 15:30h, havia várias pessoas esperando atendimento. Nada excepcional, tipos, homicídios, latrocínios... Apenas registro de Bos, relatos de furtos e roubos. Pois bem. Durante o tempo em que ficamos esperando pela entrevista, exatas três horas e dez minutos, apenas duas pessoas foram atendidas. Um escrivão que, decerto acostumado a vida inteira com antigas Olivettis, batia com uma força absurda nas teclas do computador, conseguiu demorar 50 minutos para registrar um boletim de ocorrência. Cinquenta minutos, devidamente cronometrados! Uma outra moça, que teve a bolsa roubada, veio preparada. Trazia nas mãos um papel, com a minuciosa anotação de tudo que havia na bolsa: documentos, cartões, folhas de cheques, etc. De nada adiantou. Quando chegamos, as 15:30h, a moça já estava lá. Quando saímos, as 18:40h, a moça continuava lá. Menos mal que já estava sendo atendida. Mas por um policial que não se constrangia em interromper o que estava fazendo para atender a toda hora o telefone. E até gargalhar de vez em quando. É por isso, amigos de bar, que bastaram dois dias para compreender porque o Rio de Janeiro continua sendo: porque ninguem está nem aí pra nada! E dá-lhe Gilberto Gil...

Todo mês de fevereiro
Aquele Abraço!
Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
E do Salgueiro e da Mangueira
E todo Rio de Janeiro
E todo mês de fevereiro
E todo povo brasileiro
Ah! Aquele Abraço!...

2 comentários:

  1. Sou carioca e amo minha cidade. E aqui ainda existe muita coisa boa. Não se pode generalizar. Não é por causa de dois delegados que a cidade é ruim.

    Armando Santana

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  2. Engraçado. Eu também moro no Rio e já fiquei horas esperando para ser atendida numa delegacia. Realmente não é por causa de um ou dois delegados. É por causa de dezenas ou centenas de delegados e policiais corruptos que a cidade está nesta situação. Nós, moradores, estamos sitiados pelos marginais e traficantes. É preciso dar um basta nesta situação. Parabéns, Raul, pelo blog e pelo comentário sobre o Rio!

    Atahualpa M. Faria

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