quarta-feira, 24 de março de 2010

You're the Jury - Guilty or Not Guilty?

Estive essa semana no Forum de Santana, onde o casal Nardoni está sendo julgado. Do lado de fora, um circo. Com direito a personagens bizarros, que encontraram ali a oportunidade de ter os seus sagrados 15 segundos de fama. Um cara se amarra a uma cruz cheia de fotos. Outro se veste numa fantasia de gari e diz que é Osama Bin Laden. E grupos que carregam faixas e cartazes onde a palavra 'justiça' aparece insistentemente, se revezam, claro, nos gritos compassados de 'jus-ti-ça!!'. Afora isso, reporteres, produtores e cinegrafistas cumprimos o ritual da cobertura minuto a minuto, sabendo de antemão que nada bombástico vai acontecer ali embaixo. O que resta, para quem entra ao vivo, é ecoar o que acontece no Tribunal, onde sete pessoas estão sendo convencidas a tomar uma decisão. E é neste cenário, olhando tudo, vendo as pessoas, os cartazes, a mobilização, que me convenço cada vez mais de que não gostaria de estar na pele de um jurado. Em nenhuma circunstância. Nem num concurso de beleza. Quanto mais numa ocasião dessas, quando os réus já entram no tribunal condenados pela opinião pública. E, acredito, até pelos jurados. Porque essas sete pessoas, quatro mulheres e três homens, já tinham lido, visto e ouvido o suficiente para formar uma opinião sobre esse assunto. Duvido que nenhum deles tenha escutado, antes de sair de casa para o forum, o conselho vindo da mãe, do pai, do marido ou de quem quer que seja: "veja lá o que vai fazer, hein ? O Brasil inteiro vai te cobrar depois". Haja pressão! Deve até existir aquele diabinho que fica em volta da cabeça deles gritando assim: "Olhem e apontem! Joguem a primeira pedra ou se calem para sempre! Respondam agora: culpados ou inocentes ??" A sensação não deve ser nada boa. Deve ser igual aquela que nos assalta em determinados momentos da vida, quando você sabe que está no lugar errado, na hora errada. A pergunta fatal é: 'ai, ai, ai... o que estou fazendo aqui..?' Porque, me digam, será que é possível afirmar, sem nenhuma sombra de dúvida, depois de ouvir todos os argumentos de acusação e defesa, que o casal é culpado ? Ou que é inocente ? Será que peritos, especialistas, laudos e documentos respondem todas as dúvidas ? Esclarecem tudo na cabeça de uma pessoa ? Talvez. E é justamente esse 'talvez' que pega. Essa bendita, ou maldita, palavrinha, que está no centro da questão. Porque o 'talvez' não pode condenar. Não pode haver 'achismos' em uma condenação. Ela deve se amparar em uma convicção. É a certeza que condena. Por outro lado, a dúvida pode, e deve, inocentar. Não, eu não queria mesmo estar na pele destes jurados. Até porque, eles devem saber, pior que inocentar um criminoso, é condenar um inocente.

2 comentários:

  1. Pois é Raul. Como você, também não gostaria de estar na pele dos jurados, nem em sonho. Não é fácil condenar ou inocentar alguém baseado em fatos, provas ou como queira chamar, que sejam apresentados por terceiros,sem ter presenciado a ocorrência, pois depois sempre fica a dúvida se foi tomada a decisão certa . Agora, com relação às pessoas que foram ao local apenas com o intuito de " aparecer", é ridículo, no mínimo uma falta de respeito à memória de Isabella . Beijo, Luciane

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  2. Raul,
    Admiro a forma como escreve, clara, objetiva e sem "frescuras".....
    Gostei muito da matéria e, realmente, não deve ser fácil julgar. A pessoa deve estar muito certa do que está fazendo, pois penso ser mais fácil alguém viver com a certeza que inocentou um culpado do que culpou um inocente....também não gostaria de estar na pele deles.
    Vamos aguardar o resultado.

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