terça-feira, 19 de junho de 2012

Os motivos de Elize

O que leva uma mulher jovem, bonita, rica, casada e mãe de uma filha pequena a matar o próprio marido ? E esquartejar o corpo, através de cortes cirúrgicos ? Existem respostas para a primeira pergunta. Para a segunda, porem, só existem hipóteses. Elize é a personagem principal desta história, que lembra roteiros de ficção. A primeira parte remete ao filme 'Uma linda mulher', onde o milionário vivido por Richard Gere se apaixona pela prostituta interpretada por Julia Roberts. A segunda parte, no entanto, mistura mistério e horror, na mesma proporção. Filha mais velha de uma família simples e humilde do interior do Paraná, a jovem batalhadora e ambiciosa não mediu esforços para se dar bem na vida. Elize deixou a casa dos pais quando completou 18 anos, fez um curso técnico de enfermagem e trabalhou na Assembléia Legislativa, em Curitiba, até que resolveu tentar a vida em São Paulo. Na capital mais populosa da América do Sul, Elize esqueceu os pudores. Com o codinome 'Kelly', usou a beleza e vendeu o corpo para ganhar dinheiro. As fotos sensuais e provocantes atrairam os olhares e despertaram a volúpia de muitos homens. Entre eles, estava Marcos Kitano Matsunaga. Bastaram poucos encontros, muito bem remunerados, para que o nissei tímido e tranquilo, casado e herdeiro de uma fortuna bilionária, se perdesse de amores pela loira paranaense. Apaixonado, Marcos largou a mulher e enfrentou o conservadorismo da família para viver seu conto de fadas. Um pacto de fidelidade selou a união do casal. Mas, contrariando as expectativas, só Elize foi fiel. Marcos não conseguiu se livrar da atração irresistível que sempre teve por garotas de aluguel. E Elize, ironicamente, passou a viver o outro lado da moeda. De pivô de traições, conheceu o que é ser mulher traída. E o casamento começou a ruir. As brigas se tornaram constantes. E, talvez até influenciado pelas próprias 'companhias', o passado de Elize começou a incomodar Marcos. Na noite do crime, ele pegou pesado com a mulher: "Você vai voltar para o lixo de onde veio" - "Eu sustento a sua família inteira" - "Seu pai é um vagabundo" - "Você não tem moral para ser mãe" - "Vou te deixar na calçada" - "Vou ficar com a guarda de nossa filha, porque nenhum juiz vai dar a guarda de uma criança para uma puta". Estas teriam sido algumas frases ditas por ele naquela noite. As ofensas foram relatadas por Elize no depoimento à polícia. E sustentadas pela babá que já tinha presenciado outras discussões do casal. O passado da esposa realmente assombrava Marcos Matsunaga. Para ele, Elize ainda era Kelly. E Kelly era uma prostituta. As ofensas, traições, humilhações, referências à família e a possibilidade de perder a guarda da filha são as prováveis motivações para o crime. É compreensível, embora inaceitável pela lei dos homens, que uma mãe mate para proteger um filho. Mas é inexplicável que qualquer pessoa tenha sangue frio suficiente para retalhar um corpo humano. Ainda mais quando este corpo é do homem que viveu um conto de fadas ao lado da assassina. E é pai da única filha que ela tem. Uma menina que, um dia, vai ser confrontada com uma triste realidade. A de que o pai dela foi morto e esquartejado pela mulher que ela chama de mãe. 

A reportagem abaixo foi a primeira feita por mim para o Domingo Espetacular. O laudo que incrimina ainda mais Elize, quando levanta a possibilidade dela ter esquartejado Marcos ainda vivo, foi divulgado alguns dias depois. O inquérito está conluído. Mas, não sei porque, acho que o caso ainda não está encerrado.
   


O Ministério Público denunciou Elize por homicídio triplamente qualificado. Por motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e meio cruel, e ocultação de cadáver. O MP alega que Elize matou por dinheiro. De olho no seguro de 600 mil reais. Acho estranho. Ela era dona de metade do apartamento onde vivia com Marcos. Uma cobertura triplex avaliada em 5 milhões de reais. E, numa eventual separação, teria direito a uma indenização razoável. Como matou ? Porque matou ? Um dia, Elize vai dizer.

8 comentários:

  1. So pode ser a falta de DEUS em sua vida,ela estava acumulando sentimentos sem nobreza,sem importância.Pobre Elize rica.Agora o que resta, a prisão,a falta da filha dos amigos e a sonhada liberdade que não tem preço.Raul estava com saudades de vc.Bjos.

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  2. Caro Raul,

    Sem querer justificar o injustificável, esse caso me remete a uma frase de uma menina de quatorze anos que levou um tiro no Rio de Janeiro. Ela, ao ser perguntada por uma entrevistadora, como conseguia estar tão "inteira" depois de ficar parapléjica e ainda ter bom humor, ela disse: Só o dono da dor sabe o quanto ela dói...Fiquei perplexa, e isso me fez refletir. Logo os focos se apagam, as câmeras são desligadas e cada um fica com seu universo interior onde, por mais que queiramos, não conseguimos chegar até os subterrâneos que cada um leva intrínseco.
    Prefiro divagar na frase do brilhante Érico Veríssimo quando disse: Quando a gente pensa que encontrou todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas...
    Aí reside o fascínio da vida quando tentamos entender sob nossa perspectiva ao outro. Abraços!

    Noelle Pine.

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  3. Oi Raul!! Não vou aqui palpitar sobre o que teria levado Elize a cometer tamanha barbárie. Mas só lhe digo uma coisa: a atitude de esquartejar o corpo demonstra um profundo ódio e frieza ou então algum distúrbio psíquiátrico. Não sei.Somente sendo especialista para definir, como não sou...
    A verdade é , como você disse, que só a própria Elize poderá dizer o porquê dessa atitude extrema.
    Agora, fico pensando na pobre criança, apenas um bebê. O que será dela? Será criada sem pai nem mãe. Muito triste. E Deus sabe como reagirá no futuro ao saber a verdade.
    Excelente reportagem ( como sempre!).
    Beijo

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  4. Olá Raul!!
    Excelente reportagem.

    Admiro a coragem do Marcos, por ser de família rica e conservadora, em se casar com a Elize e ter enfrentado tudo por ela. Ele realmente deve ter amado muito essa mulher. Mas, não acredito que ele tenha se esquecido do passado e origem dela. Posso até estar errada, mas devia jogar na cara dela todas as vezes que as coisas ficavam ruins entre eles, inclusive que separou da primeira mulher por causa dela. Na hora da raiva as pessoas esquecem tudo que já viveram e até que houve um sentimento entre eles. Acabam falando coisas que machucam, magoam e não há retorno. No mais das vezes, acabam falando exatamente o que vem guardando e pensam a sete chaves dentro do coração. Quando se dão conta, já falaram tudo. Desculpas são pedidas, mas o que estava guardado foi externado.
    Não concordo com as atitudes da Elize e NADA justifica as barbaridades que ela fez. Fico com pena da filha deles, como você bem colocou. Vítima de um conto de horror.
    O fato da Elize ter um passado de prostituição não a torna uma má pessoa, péssima mãe e mulher ou pivô de um relacionamento desfeito e traições. Nem faz dele um santo. Não acredito que alguém possa ser pivô de separação de quem quer que seja, pois a infidelidade só entra na casa dos outros quando há espaço e se a porta estiver aberta. Algo anterior aconteceu para alguém ser infiel. Veja, estou falando de relacionamentos considerados normais e de gente madura. “Arroz com feijão”. As pessoas quando não estão felizes dentro de casa, ao invés de conversarem sobre o assunto, enfrentarem as dificuldades juntas e tomarem uma decisão, preferem sair a procura de novas emoções, novidades, variedades etc. Acham que ali encontrarão as soluções e o gás necessários para dar continuidade ao relacionamento desgastado, empurrado e conveniente. Por isso vejo que o pivô da primeira separação não foi a Elize, mas sim a insatisfação dele, a infelicidade, a falta de afinidades, a monotonia, a vida em família etc. São tantas as razões e fica difícil enumerá-las. As pessoas têm facilidade em achar que a felicidade e a infelicidade delas está sempre nas mãos do outro ou que a culpa e o problema também estão no outro. Jamais pensam e admitem que o problema está dentro delas mesmas e mais próximo do que imaginam. Só que para admitirem, tem que ser corajosas, sensíveis, maduras e conscientes. Acho que quando você ama e está feliz com sua mulher (não importa o passado dela), realizado no casamento e satisfeito com sua vida, você não fica “ciscando” com a mulherada, agindo feito pavão na internet, olhando sites de pornografias ou buscando garotas de programa. Sem sombra de dúvida, só se for doente, egocêntrico, vaidoso e imaturo, principalmente.
    Ele era casado quando a procurou, entrou no site em que ela estava, saiu com ela, mantiveram um relacionamento e só se casou com ela porque quis. Ele a quis como mulher e sabia, o tempo todo, do passado dela. Não podemos esquecer que a preferência dele era por prostitutas e, talvez, estivesse buscando uma desculpa ou outra pessoa para se separar de Elize. Assim como fez na primeira vez. Ficaríamos aqui vários dias imaginando o que se passava na cabeça dele e nem assim chegaríamos perto do verdadeiro motivo, pois somente ele poderia dizer.
    Como eu disse acima, NADA justifica o que ela fez, mas ele também não era nenhum santo. Só posso dizer: uma barbaridade!

    Lívia, BH

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  5. Caro amigo Raul!!!!!
    Os motivos de Elize não foram poucos. Pelo jeito que a coisa foi feita, parece que havia ressentimento, ódio e medo.
    Não parece que ela queria apenas matar, mas sim liquidar. Queria ter certeza que não sobraria nada dele. Uma amiga diz:“Lu, você não imagina e nem sabe do que algumas mulheres são capazes quando sentem ódio, são humilhadas, rejeitadas ou percebem seus “bichinhos” ameaçados. Elas ficam insandecidas e se tornam cruéis."
    A vida dela, mesmo com dinheiro e conforto, não devia ser fácil o que não explica e nem justifica tamanha atrocidade. A impressão que passa é que o relacionamento já estava desgastado. Quando se tem dinheiro, fica fácil se distrair e adiar decisões. Atitude adotada por muitos casais desde que o mundo é mundo. Algumas mulheres vivem diariamente com traições e, muitas delas, nem dinheiro tem. Elas tem sim, maridos machistas, grosseiros, ausentes ou por serem provedores mandam e desmandam, traem, agridem, humilham e mentem. Só quem vive ou viveu com homens controladores e machistas sabe bem o que isso significa. As mulheres, por vários motivos, se submetem aceitam e toleram.
    Um dia todas se rebelam e acabam seguindo os seus caminhos. É da natureza do ser humano. Evidente que nem sempre da melhor maneira ou da forma considerada aceitável. Porisso, jamais devemos subestimar as pessoas. Não importa a situação. Elas podem causar surpresas. O momento e a situação decidem se será de forma boa ou não.
    Coitada da pequena. Sem pai e a mãe na cadeia. Lucileide - DF

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  6. Olá Raul,acompanho sua carreira desde a EPTV. Não conhecia o seu blog.Durante muitos anos fui garota de programa e afirmo que a minha vida não era fácil.Escolhi esta vida pois não tinha formação e precisava de dinheiro rápido, porisso escolhi o caminho mais fácil.Sempre fui atraente e isto facilitou bastante. Os homens vinham até nós. A maioria com vontadades e fantasias que as suas mulheres não costumavam realizar. Outros porque o casamento já havia acabado e mesmo assim ficavam juntos por causa dos bens e dos filhos. Tinham uma vida de aparências e mentiras.Eram infelizes e faziam todos infelizes. As mulheres sabem quando seus homens traem. Muitas preferem fazer de conta que não estão vendo. Ficam amargas,duras, colocam os filhos contra os pais, também traem e ainda assim ficam no casamento de mentiras. Os homens vinham e iam com frequencia. Alguns eram frequentadores constantes. Não me arrependo do que fiz. Hoje sou casada, tenho filhos e consegui estudar. Meu marido sabe do meu passado e sempre me respeitou.Tenho amigas daquela época que ainda fazem programas. Elas me contam que muitos homens, da minha época, continuam indo lá. Alguns homens não mudam.
    Gostei das reportagens.
    Abraços, "Janette" - Campinas

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