quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Considerações

Durante as férias fui convidado para dar uma palestra em Araras, em um dos eventos de comemoração pelos 120 anos do jornal Tribuna do Povo. Fui muito bem recebido e gostei muitíssimo do encontro. Logo no começo, disse que era muito mais de ouvir e observar do que de falar. E que essa instrospecção faz parte da mineiridade. Como alguem já disse, você pode sair de Minas, mas Minas não sai de você. Apesar do aviso, falei por duas horas seguidas. Acho que gostaram, porque ninguem arredou pé da sala. Terminei fazendo algumas considerações sobre jornalismo, que tento repetir abaixo. Acho que serão de alguma valia para quem gosta de jornalismo. Ou para quem estuda, como Luciane, que trocou a enfermagem pelo jornalismo e é frequentadora assídua do boteco.

'Somos todos contadores de histórias. Mas histórias da vida real. Que falam de pessoas, vidas, sonhos, planos, alegrias e tristezas. Histórias que podem alterar rotas e mexer com reputações. Por isso, procuro sempre conta-las com isenção, responsabilidade e honestidade.'

'Considero que a emoção, no jornalismo, é um componente importante. Quando voce consegue tocar o coração do telespectador, ele, por certo, vivencia, avalia e entende melhor a história que é contada.'

'O reporter pode, e até deve, em determinadas circunstancias, vivenciar algumas situações. É preciso, no entanto, saber quais são os limites. Existe uma linha muito tênue entre o que é original e o que é ridículo na televisão.'

Tempos atras, recebi, de um estudante de jornalismo, algumas perguntas para uma 'entrevista' que seria usada num trabalho de faculdade. Casualmente, encontrei a cópia com as respostas que enviei. Assim como o que escrevi acima, são considerações pessoais. Mas que, pelo menos para alguns, podem servir de reflexão.

1) Como que é realizado o texto do jornalismo?

- Creio que cada jornalista tem a sua própria 'fórmula', aquela que ele considera ideal, mas isso pode variar, dependendo da pauta ou do assunto. Numa matéria factual, acho que não tem muito como mudar. O jeito é entrar de sola e mostrar de cara o que motivou a reportagem. Já as matérias frias permitem que o repórter 'viaje' um pouco, mas sem se esquecer jamais que os protagonistas principais serão sempre os personagens e situações. É preciso saber ser original e criativo, tendo em mente que exageros e citações poéticas geralmente transformam a reportagem num amontoado de pieguices. No jornalismo, e especialmente no telejornalismo, o original e o ridículo são separados por uma linha muito tênue. É preciso muito cuidado para não escorregar pelo caminho.

2) Como que são as adaptaçoes feitas no texto para eles passarem isso no jornal na TV ?
- A linguagem ideal é aquela que pode ser compreendida pelo telespectador, logo, é aquela falada por ele. Claro que o 'telespectador', neste caso, é a média da população brasileira. Falar o coloquial exige cuidado. O jornalismo televisivo não admite gírias (salvo em situações excepcionais) nem tolera regionalismos. Uma palavra comum no Rio Grande do Sul pode não ter sentido nenhum no Amazonas, por exemplo. Basicamente, o repórter jamais pode se esquecer que televisão é imagem, e as imagens falam sempre por si. Descrever insistentemente aquilo que as imagens estão mostrando é ofender a inteligência e subestimar a capacidade do telespectador.

3) Se realmente existe uma preocupação com a linguagem e se ha adaptaçoes no texto por causa do público alvo. ( assim...no começo do trabalho a gente tinha que colocar a nossa opinião e o que nós achavamos. A idéia inicial é que o jornal faz uma adaptação em sua linguagem para conseguir "repassar" a sua mensagem, já que a maioria da população não tem estudo e digamos que de certa forma não entende palavras dificeis...somente para confirmar)

- Acho que deve existir, por parte de todo jornalista, muito cuidado com a linguagem. Usar expressões difíceis ou um palavreado rebuscado não vai mudar a avaliação do telespectador em relação ao repórter. Ele não vai achar que o repórter é mais inteligente porque usou uma palavra esquisita. Pode achar, isto sim, que o repórter é arrogante e metido a besta. E se for mesmo necessário usar a tal palavra, é preciso que se explique o significado e porque foi usada. No entanto, não podemos subestimar o telespectador, tratando-o como uma criança semi-analfabeta. Falamos para vários públicos. Para quem não estudou e tambem para o especialista que fez pós-graduação em Harvard e fala três idiomas. Encontrar a linguagem e o tom que ambos entendam facilmente é o grande desafio.

2 comentários:

  1. Raul, fiquei muito feliz por ter se lembrado de mim nesse post, que considero a primeira aula desse período, dada a importância do assunto( Valeu mestre!!!!).
    Quisera ter a oportunidade de assistir a uma palestra sua aqui no Rio de Janeiro, seria um prazer e uma honra.
    Se algum dia for convidado para uma palestra aqui, por favor me avise, pois estarei na primeira fila.
    Obrigada, beijo

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  2. Olha Raul se vc vier aqui na cidade onde moro Itabira MG POR FAVOR ME AVISE, estarei la para ouvi-lo tambem ate por mais horas.Ler o que vc esceve ja é bom imagina ouvir.

    Abraço.

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