quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A incrível história dos Iawanawás - parte I

Amigos de bar, me perdoem pelas ausências. Gosto de contar sobre os bastidores das viagens e reportagens que faço mas, desta vez, foram três viagens consecutivas. E com menos de uma semana de espaço entre uma e outra. Aí, fiquei sem tempo e sem instrumentos para atualizar o blog. Mas a vida segue. E a gente segue girando o mundo. Aliás, preciso contar sobre um lugar especialíssimo que conheci, no interior do Acre. Um povo maravilhoso, que dá lições de vida e harmonia. Eles são Iawanawás (lê-se iauanauás), e vivem em uma aldeia que fica escondida do mundo, às margens do rio Gregório. Para chegar até lá, é preciso encarar cinco horas de estrada e outras oito horas de barco. Isso mesmo: oito horas! É que o rio Gregório é muito sinuoso e, nesta época do ano, está baixo demais da conta, tem mais areia do que água. Então, o barco tem que ser movido por um motor de oito cilindradas chamado 'rabeta', apropriado para pequenas embarcações e baixas profundidades. Funciona bem, gasta pouco, faz muito barulho mas 'anda' devagarinho. Por isso, chegamos à aldeia quando o sol já tinha ido embora. A chegada foi uma destas situações dificeis de serem esquecidas. Praticamente todos os índios (cerca de 300) se amontoaram na encosta e apareceram de repente, cantando e saudando nossa chegada. Na margem, só uma pessoa nos esperava: o cacique Ubiracy Brasil Iawanawá, ou Bira, como ele prefere ser chamado. Ao lado dele, subimos a encosta e fomos recebidos por todos os moradores da aldeia. Mas antes de falar dos Iawanawás é preciso contar um pouco da história deles. Séculos atrás, esta nação indígena vivia em terras peruanas mas, ao longo do tempo, foi sendo lentamente 'empurrada' para o Acre por madeireiros e grileiros. Esta pressão fez com que os Iawanawás se tornassem uma das primeiras tribos do Acre a ter contato com o homem branco, cerca de 140 anos atrás. Muitos foram escravizados para trabalhar nos seringais. Outros morreram lutando contra a escravidão. E a maioria fugiu. Foi esta fuga constante e o contato intenso com os brancos que fizeram os Iawanawás se dispersarem. E mais grave, fizeram este povo perder um pouco da identidade. As novas gerações não falavam mais a língua nativa e raros se lembravam dos costumes e tradições Iawanawás. Entre estes costumes está o chá do uní, uma infusão feita com um cipó e folhas que só existem na região onde eles vivem. O uní provoca visões e sensações inacreditáveis. Este chá é, na verdade, a origem do Daime, uma seita que tem milhares de seguidores no estado do Acre. Pois bem, tudo isso está sendo trazido de volta agora, graças à intervenção do cacique Ubiracy Brasil Iawanawá. É o homem que aparece na foto acima, devidamente pintado para uma cerimônia. Foi com ele que tive a honra de tomar rapé, um ritual que os caciques dividem com poucos. E com ele também experimentei o chá do Uní, que me levou a universos paralelos jamais visitados. O resto desta história, eu prometo, conto depois.

Um comentário:

  1. Olá Raul, parabéns!Seu trabalho está cada vez melhor! E você continua com sua simplicidade e carisma de sempre (sua marca registrada). Já estou apaixonada por esta história dos Iawanawuás, portanto não demore a postar a parte II. Sucesso!
    Sua fã número zero,
    Cássia - Viçosa/MG

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