quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Iemen - O Mundo Proibido - parte I

Pense num lugar onde o tempo parou. Onde as pessoas vivem como viviam seus antepassados, muitos séculos atrás. Onde os moradores andam com fuzis pendurados nos ombros, prontos para serem disparados. Esse lugar existe e fica na península arábica. É o Iêmen, um destino que, para mim, surgiu de repente e por acaso. Estava nos preparativos finais para viajar para o Qatar, onde faria uma série de reportagens para o Jornal da Record, quando Henry Ajl, repórter/produtor/cinegrafista da Baboon, me ligou dizendo que, em vez do Qatar, iríamos para o Iêmen. Quando comecei a pesquisar no Google, levei um susto. Um site de Portugal orientava os turistas a cancelar as viagens agendadas para lá. Outro informava sobre um atentado a bomba que tinha matado, pouco tempo atrás, oito turistas espanhóis. Enfim, todas as informações falavam de um país fechado, remoto e extremamente perigoso para os estrangeiros. Perfeito, portanto! Um lugar ideal para se produzir um bom material jornalístico. Mas a entrada de jornalistas no Iêmen é super-controlada. Para entrar lá, a trabalho, é preciso esperar anos até o visto ser aprovado. Por isso, fomos como turistas. Só Henry e eu. Na bagagem levamos uma câmera pequena, se comparada com as que usamos normalmente na TV, mas com tecnologia para gravar em HD, um microfone de lapela, alguns outros equipamentos, nossas roupas e muita ansiedada. A viagem até lá é demorada. Foram 15 horas até Dubai. Mais 12 horas de espera, no aeroporto, até embarcar num avião surrado da Yemenia, uma empresa aérea estatal. E mais duas horas de vôo até Sanaa, a capital do Iêmen. A cidade, com quase dois milhões de habitantes, tem um trânsito caótico. À primeira vista, parece que todo mundo lá só compra Toyota. Carro, caminhonete, ônibus, carroça, tudo é Toyota! A frota é antiga, formada por carros com mais de vinte anos de uso, e a única regra que vale nas ruas e avenidas é buzinar. O tempo todo. Não interessa se tem alguem na frente ou não. Tem que buzinar! Mas funciona. O trânsito até que flui. No hotel onde ficamos, enquanto aguardava o chek-in e ouvia o cântico que, no final da tarde, emana das mesquitas e ecoa por toda a cidade, vi, numa mesa, um jornal do Iêmen, escrito em inglês. A manchete de capa falava de dois iemenitas que tinham sido condenados à morte por espionagem. Me deu um frio no estômago na hora! Nossa situação, na verdade, era a de espiões também. Dois jornalistas sem autorização para trabalhar no país, munidos de equipamentos de gravação, câmeras, microfones e com um roteiro que passava pelas principais cidades. E apenas um guia para nos levar de um lado para o outro. O cântico agora parecia uma música fúnebre. A ansiedade tinha ido embora. Substituída pela expectativa. E pelo medo também.

Nos próximos posts, conto mais. Inclusive com fotos do lugar.

3 comentários:

  1. Oi Raul,
    E a continuação,estou curiosa.
    Abração,

    ResponderExcluir
  2. Raul, como vai?
    Eu assisti algumas reportagens dessa sua viagem,
    achei interessante o país e a cultura desse povo. É sempre muito valiosa essas descobertas.
    Aguardo o prometido, mais fotos e narrativas.
    Até a próxima.

    ResponderExcluir
  3. Oi Raul, que matéria fascinante. Na época da exibição perdi algumas partes por causa do trabalho, mas agora, lendo os posts , pude "ficar por dentro" de tudo o que se passou. Está vendo porque te pedi no e mail que tivesse cuidado! Olhe o risco que você e o Henry correram!!! Por Deus!!
    Mas, parabéns, a matéria ficou ótima. Aliás, o que não é novidade.
    Só quero te dizer que agora que descobri seu blog, não perderei mais nenhuma matéria sua, mesmo que não a assista na tv. E por favor, mais uma vez, tome cuidado!! Fique com Deus.
    Um beijão

    ResponderExcluir