quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Daktari

Existem alguns ícones que ficam marcados para sempre em nossas vidas. E muitos são relacionados com a televisão. Quem é do tempo do 'reclame', como eu, certamente se lembra do '- Quem bate ? - É o frio!', e a musiquinha 'Nào adianta bater, eu não deixo você entrar...'. Assim como esses 'reclames', alguns seriados tambem marcaram a vida de muitos de nós. Quantos não fomos apresentados, através da televisão, a um mundo diferente, habitado por Jerônimos, Paladinos e Noviças Voadoras ? Eu tinha alguns preferidos. Gostava de assistir 'Viagem ao Fundo do Mar', 'O Túnel do Tempo' e 'Terra de Gigantes'. E tambem de 'Daktari'. Na época eu nem sabia, mas Daktari era ambientado no Quênia. O herói era um veterinário americano que vivia numa reserva cuidando de animais como leões e elefantes. Ele tinha um mascote chamado Clarence, um leão vesgo que ajudava a combater os vilões que invadiam a reserva. Daktari era um pouco diferente dos outros seriados porque não se baseava somente em ficção. Tipos, todos sabíamos que aquele mundo existia de fato. Que não era um mundo paralelo, embora habitado tambem por feras e gigantes que pareciam irreais aos nossos olhos. Quando digo ´nossos´ me refiro aos amigos de Cabo Verde que jamais havíamos visto nenhum animal selvagem de perto. A não ser quando um circo passou por lá, mas os animais eram tão magros e maltratados que, em vez de medo, sentíamos pena deles. O leão, coitado, vivia numa jaula pequena e dava pra ver até as costelas do bicho. De lá para cá voltei a ver muitos outros animais africanos de perto, mas sempre em zoológicos ou cativeiros. Por isso foi muito especial fazer um safari jornalístico no Quênia. O país é um dos mais pobres do mundo. O censo nacional, divulgado dois dias depois de nossa chegada, revelou indicadores que lembram o Brasil de 50 anos atrás. Somente doze por cento da população tem acesso à água encanada. A renda per capita é de pouco mais de 300 dólares. Ou seja, cada habitante recebe, em média, menos de 1 dólar por dia. E pouco mais de cinco por cento das famílias possuem televisão em casa. Este último dado acaba criando lá, situações raras aqui pelo Brasil. Em um domingo, por exemplo, viajamos mais de 700 quilômetros para chegar até um parque nacional. No caminho passamos por muitas vilas e povoados. E em todos havia muita gente nas ruas. Os quenianos mantém o saudável hábito de conversar em grupo nas praças e mercados.  Famílias inteiras se reunem, depois dos cultos ou missas, para animadas conversas. Eu fiquei imaginando se haveria tanta gente nas ruas se todos tivessem televisões em casa. Pena que a viagem foi curta e não foi possível mostrar, nas reportagens, um pouco dos hábitos e da vida dos quenianos. A missão era outra: acompanhar uma transferência de bufalos. E tentar alguns flagrantes nas reservas e parques nacionais. Parece fácil, mas fazer matérias sobre bichos não é mole, não. Ainda mais se o bicho é selvagem, grande e pode matar facilmente uma pessoa. Não dá pra fazer uma matéria contemplativa sobre estes animais. Ficaria chato toda vida. E obviamente não dá tambem para interagir com eles. Com exceção da caçada aos búfalos, nas outras reservas não podíamos descer do carro em nenhum momento. Claro que desobedeci estas ordens algumas vezes, ou não conseguiria fazer as reportagens. E olha, vou te dizer viu, não dá pra descrever a sensação de estar a poucos metros de feras como leões e rinocerontes em ambiente natural. 
Aliás, descobrimos lá um santuário que tenta salvar os últimos rinocerontes brancos do norte. Esta é, talvez, a subespécie mais ameaçada do planeta. Só existem oito rinocerontes assim no mundo. Quatro estão num zoológico dos Estados Unidos. Os outros quatro estavam tambem num zoológico da República Tcheca, mas foram transferidos para este santuário no Quênia.  Especialistas estão tentando fazer com que estes bichos recuperem, no ambiente natural, o gosto pelo acasalamento. É a última e desesperada tentativa de salvar a espécie da extinção absoluta. Estão entre a cruz e a espada: ou transam ou desaparecem. Eu, no lugar deles, não pensaria duas vezes. E não são somente estes gigantes que estão ameaçados. A população de leões tambem vem diminuindo gradativamente no Quênia e em outras nações africanas. Inclusive a transferência dos búfalos só foi feita porque leões estavam morrendo de fome em uma determinada reserva. É com ações deste tipo que alguns quenianos tentam manter o delicado equilibrio nas reservas e parques nacionais. Tal qual o Dr. Daktari, ainda existem heróis solitários lutando pela vida selvagem no Quênia. 


Ah, claro que muitos vão discordar, mas na minha opinião o bicho mais bonito de todos os africanos é a girafa. Graciosa, delicada, elegante e ao mesmo tempo, lerda e desengonçada. Tipicamente femininas, lembram algumas top models por aí. E lá é possível encontrar grupos com dezenas delas caminhando livremente nas savanas. Como diz aquele 'reclame': não tem preço!  


A reportagem sobre a transferência dos búfalos voce pode assistir clicando abaixo: 

5 comentários:

  1. Oi Raul. Também assistia Daktari, e me divertia com o estrabismo do leão Clarence ( muito fofo! ). Quanto a matéria sobre o resgate dos búfalos, assisti quando da sua exibição no DE.Não preciso dizer o que achei não é? Pois isso você já sabe. Fico feliz por saber que ainda existem pessoas que se preocupam com a preservação de espécies tão ameaçadas como os búfalos.
    É, infelizmente tenho que discordar em um único ponto, como você previu, com relação às girafas, pois prefiro os felinos.
    A nova aparência do blog ficou show!!! Parabéns pela matéria.
    Beijo, Luciane- RJ

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  2. Raul, encantadora a sua foto no Pico da Neblina!!! Assisti várias vezes esta reportagem e amei de verdade! Foi emocionante ver aquele "bando de marmanjos" chorando quando alcançaram o topo do pico.
    Quanto ao post do Daktari, adorei! Mas eu era apaixonada também pelo Tarzan e pelo Zorro: até hoje não sei qual dos dois amei mais (rs).
    Quando assisti a reportagem no DE sobre a transferência dos búfalos, não pude deixar de sentir exatamente o que a famosa escritora dinamarquesa Karen Blixen escreveu no lindo romance A FAZENDA AFRICANA, onde falou da África com tanto amor, verdade, riqueza de detalhes, que me senti no Quênia, viajando naquelas imagens que vocês fizeram pelas rua de Nairobi. Como ela descreve no livro os povos somalis, kikuios, a savana, os animais, era como se eu estivesse presente na sua reportagem. Parabéns pelo lindo trabalho! E vendo a África, dá pra entender porque o filme ENTRE DOIS AMORES, baseado no livro dela, ganhou 8 oscars, lembra?
    Mas por favor, desça daquele caminhão cheio de búfalos selvagens!!! Morri de medo!
    Adorei o post e o novo visual do blog.

    Sua fã nº zero!

    Cássia - Viçosa/MG

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  3. Oi Raul.
    Para mim foi impressionante os esforços daqueles homens cumprindo um trabalho tão árduo e perigoso. Bom que o governo do Quênia se preocupe com esta situação, pois se a população de felinos diminuir, a de herbívoros irá aumentar, a vegetação se tornará escassa, e várias espécies ficarão condenadas ao desaparecimento. O que também me chamou a atenção foram as péssimas condições daqueles dois guardas da reserva, sem conforto, sem segurança, sem nada... E ainda tem gente que reclama da vida.
    Por essa atmosfera africana e por vc ter mencionado 'heróis solitários' lembrei da zoóloga Dian Fossey, que enfrentou os caçadores e o governo de Ruanda pela preservação dos gorilas. Ela obteve êxito, conseguiu que a população desses primatas aumentasse e saísse do risco de extinção. Porém o desfecho de sua história foi trágico: Dian foi assassinada em 1985 com golpes de facão, e quem a matou continua sendo um mistério.
    Por mais fortes, ágeis, temidos, maiores que sejam, os animais não são páreo para uma grande ameaça: o ser humano.
    Bom, como gosto não se discute, dos animais africanos, pra mim o leopardo é o mais bonito. As girafas são até simpáticas, mas certas modelos são bem mais esquálidas.
    Gostei do novo visual, ainda mais da foto em que vc posou com a bandeira do Brasil, que no alto do Pico da Neblina se fez honrada. Exemplo a ser dado a muito brasileiros que só lembram que ela existe quando estamos na época da copa do mundo.
    Parabéns pela reportagem, e não se preocupe, seu Anjo da Guarda está sempre se plantão.
    Um abraço.

    RCCaridade - Vila Velha, ES

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  4. Ola! Raul! De fato alguns seriados de tv marcam a gente. Eu curto aqueles com temas familiares, como Jeannie, é um gênio e a Feiticeira. Mas há tembém os filmes em série, como 007, especialmente os estrelados pelo Pierce Brosnan, que é bonito e charmoso. Sem esquecer de filmess antigos, o meu preferido é: Uma Carta de Amor!
    Um abraço!
    SHYRLEY

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  5. Nossa!!! Raul vc fez eu voltar a minha infância se lembra do seriado DANIEL BOONE, me lembro que assistia junto de meu Pai aquelas aventras de um colonizador era muito original, e tambem via a viagem no fundo do mar ficava enjoada qiando aquele submarino virava de um lado para outro...lembranças de infância muito boa...

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